Não creia
Não creia que em mim
broteja tanto fel.
Afinal, sempre afinal,
o amor é sempre um mel.
Os versos,muitas vezes, exprimem
a revolta que se vê em outrem,
sofrimentos chorados com o vento
e que apenas no peito se comprimem.
Não canto a minha dor.
Em mim ela encontra compreensão.
Minhas toadas choram o calor
da dor que sinto no olhar dos outros,
que introvertidos não conseguem expor
os bafejos íntimos com ardor,
e soluçam atormentados em conflitos,
tentando, em vão, gritar o seu temor.
Eu canto a solidão do amigo ou irmão
que esconde no peito uma paixão.
Eu choro o choro triste, sem perdão,
de quem se amargura na solidão.
Eu sinto na boca amarga da verdade
a dor sofrida da saudade
de quem se foi e não voltará jamais.
Assim, passo a passo, tento expressar
a dor de quem sofre sem chorar,
e tento, ao menos, ajudar,
e ressuscitar a paz no peito, sem pesar.
No fundo, eu sempre estou de bem com o mundo,
não é uma catarse do meu próprio eu.
É sentir uma dor que não gemeu,
os gemidos que ouviu e compadeceu,
e que expressa que compreendeu.
Sinto o farfalhar do vento nas palmeiras,
os sussurros de amor, a vida inteira
e as arruaças tão fagueiras
da vida por si só.
Às vezes, em minha garganta surge um nó,
mas tento transformá-lo em pó
e soprá-lo, fortemente, ao vento, só,
para que, no raiar da aurora,
a dor já tenha ido embora
e restar, apenas, a esperança.