Vida
(15/08/05)
Pelas frestas dos dedos do corpo
És tu, vida, quem hoje te esvais
E se não mais consigo retê-la
Sinto o fim bem ali, sim bem perto
Um segundo, um minuto
Talvez pouco mais
Ao meu lado a presença eu sinto
Muita gente, pessoa querida
Para que no derradeiro momento
Minha alma liberta, de novo
Com amor logo seja acolhida
Mas ao contrário do bom senso
Eu não sofro em agonia
Vou sereno, mas vou triste
Misto de dor e alegria
De certo por, em dias pregressos
Já ter dito tudo que queria
Àqueles que sei que me amam
Tudo que no coração passava
Tudo que em meu peito ardia
Ao meu pai já disse que o amo
E, apesar de não te-lo ouvido
Senti muitas e muitas vezes
“Também te amo, meu filho querido”
À minha mãe eu já pedi desculpas
Com palavras e também com ações
Entendi o seu modo de vida
Suas críticas e as pregações
E a muito descobri, fui injusto
Não compreendendo seu jeito de ser
Mas fizemos, faz tempo, as pazes
Respeitando e o respeito ter
Meus irmãos, cinco vidas distintas
Cada qual em seu mundo, risonho
Cada um, uma história, um sonho
Um desejo de vida a seguir
Os amei e também fui amado
Em minha vida me deram o prazer
Das suas vozes, seus gestos, olhares
O prazer de poder conviver
Meus três filhos, a quem vi crescer
Entre um abraço, um beijo, um carinho
Entre um choro, um soluço, sozinho
Mesmo que em algum tão discreto
Sei que sabem do amor que reservo
Que reservo a eles pra sempre
Eterno, sereno e infinito
Há também você ali, minha amada
Olhos verdes, cheios de emoção
Que um dia cativou meus olhos
Escolhi-te em total opção
Como sempre falamos de tudo
Acertamos os problemas de então
Tudo dito, já disse mil vezes
És dona do meu coração
Agora sinto: é a Hora
Eu choro, não de desespero
É saudade, antes mesmo de partir
Então não chorem, nenhum de vocês
Quero um coro: rostos a sorrir
E se nada mais há para ser dito
Nada mais pra ser dito o será
Mas partindo, quero dizer algo
Algo curto antes que eu me vá
Uma frase, e resumo o que sinto:
“Eu os espero do lado de lá!”