A Dança

o medo veio primeiro

com os pés descalços e os olhos grandes

sussurrando nas paredes da alma:

“não vai…”

mas o êxtase respondeu com um riso de criança

e rodopiou no peito:

“mas já fui.”

e então os dois se deram as mãos —

sem raiva, sem disputa

como quem sabe que a dança não é pra vencer

é pra se perder

o medo tremia

o êxtase brilhava

e no compasso entre um e outro

nasceu o silêncio que sabe

aquele que não pergunta

aquele que não precisa provar

aquele que simplesmente é

como o céu é

como o mar é

como tu és

o medo aprendeu a sorrir

o êxtase aprendeu a esperar

e juntos,

eles costuraram o infinito

no corpo do instante.

Affonso Santos
Enviado por Affonso Santos em 17/04/2025
Código do texto: T8311635
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