Brasa Silente

Quando o mundo se fecha como punho,

e teus passos ressoam em túneis sem fim,

lembra-te: a noite mais densa é parto

a aurora vem do ventre do escuro.

Há um saber que não grita, mas sussurra,

um farol que se acende dentro do peito,

não para afugentar a treva

mas para dançar com ela e entendê-la.

O obstáculo, por vezes, é mestre disfarçado,

um espelho que te mostra o que em ti dormia.

Não, não és fraco por sentir dor,

és humano, e isso... é tua centelha divina.

A esperança, veja, não é sempre flama acesa,

mas brasa oculta sob cinzas do agora.

Sopra com teus sonhos, ainda que tímido

e verás um novo fogo surgir da quietude.

Há quem diga: “Tudo se perde.”

Mas a semente também se desfaz

antes de se tornar floresta.

Sofres? Então vives.

Vives? Então tens dentro de ti

o poder de transmutar cicatriz em constelação.

O tempo não é linha, é espiral.

E mesmo se agora estás em queda,

ela é apenas a curva de tua ascensão futura.

Não desejes voltar a ser quem eras

o casulo não volta a ser lar da borboleta.

Anda, mesmo que rasteje.

Reza, mesmo sem fé.

Chora, mesmo sem lágrimas.

Pois tudo isso é linguagem da alma

dizendo: “Ainda há jeito.”

A saída não é fora

é para dentro.

É lá que mora a chave

do impossível tornado possível.

E lembra: até a estrela mais brilhante,

já foi poeira a vagar na noite errante.

Até o verbo que cria o universo,

surgiu do silêncio, oculto, submerso.

És feito disso — do mistério e do real

tua alma é o intervalo entre o caos e o astral.

Não desistas.

A eternidade te contempla

e espera o instante

em que lembrarás

que sempre soubeste

como voltar à luz.

Abraham Cezar
Enviado por Abraham Cezar em 21/03/2025
Código do texto: T8290705
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