Brasa Silente
Quando o mundo se fecha como punho,
e teus passos ressoam em túneis sem fim,
lembra-te: a noite mais densa é parto
a aurora vem do ventre do escuro.
Há um saber que não grita, mas sussurra,
um farol que se acende dentro do peito,
não para afugentar a treva
mas para dançar com ela e entendê-la.
O obstáculo, por vezes, é mestre disfarçado,
um espelho que te mostra o que em ti dormia.
Não, não és fraco por sentir dor,
és humano, e isso... é tua centelha divina.
A esperança, veja, não é sempre flama acesa,
mas brasa oculta sob cinzas do agora.
Sopra com teus sonhos, ainda que tímido
e verás um novo fogo surgir da quietude.
Há quem diga: “Tudo se perde.”
Mas a semente também se desfaz
antes de se tornar floresta.
Sofres? Então vives.
Vives? Então tens dentro de ti
o poder de transmutar cicatriz em constelação.
O tempo não é linha, é espiral.
E mesmo se agora estás em queda,
ela é apenas a curva de tua ascensão futura.
Não desejes voltar a ser quem eras
o casulo não volta a ser lar da borboleta.
Anda, mesmo que rasteje.
Reza, mesmo sem fé.
Chora, mesmo sem lágrimas.
Pois tudo isso é linguagem da alma
dizendo: “Ainda há jeito.”
A saída não é fora
é para dentro.
É lá que mora a chave
do impossível tornado possível.
E lembra: até a estrela mais brilhante,
já foi poeira a vagar na noite errante.
Até o verbo que cria o universo,
surgiu do silêncio, oculto, submerso.
És feito disso — do mistério e do real
tua alma é o intervalo entre o caos e o astral.
Não desistas.
A eternidade te contempla
e espera o instante
em que lembrarás
que sempre soubeste
como voltar à luz.