O Ateliê da Alma

Para onde vamos?

Quem nos guia?

Somos um quadro vazio.

à procura de uma arte expressiva.

Sou eu mesmo, o suficiente para mim?

Sou eu mesmo, o suficiente para os outros?

Para onde vamos? Aonde eu vou?

Esfera azul, fui engolido por sua beleza,

uma única lente bastaria para contemplá-la.

Ao conhecê-la internamente, percebo que caí numa ilusão.

Como ficção científica, repito o mesmo dia.

Farto de mim mesmo ou dos que me cercam?

O quadro vazio acaba de receber uma tinta, vermelho fervente.

Minha visão ofusca o movimento perpétuo ao meu redor,

mas, como olhos de águia, vejo por quilômetros meu alvo.

O fôlego de meu pulmão me levou distante, ou ainda não iniciei a jornada?

Agora, recebo o pincel e, sem motivo, eu jorro a tinta.

Ontem, perdi a contagem de quantos “eus” habitam em mim.

Convenientemente, se revelam apenas a depender do cenário.

Isso faz pensar. Quem sou eu?

Entre sorrisos e dores, aonde estou indo?

Ao olhar para o lado, me deparo com uma tinta preta que exala um forte odor,

intrigantemente perturbando minha cabeça.

Meu caminho eternizará memórias, ou é necessário abandonar o mapa?

O destino empurra, eu resisto.

Um homúnculo, misturado em sentimentos, onde os ponho?

O experimento não deu certo.

Tempo, o que acha de sermos amigos?

Se nos conhecemos, eu sei que posso ficar preso ao passado.

O que eu permiti que passasse por mim?

Em cima de mim, sinto algumas gotas de tintas caírem.

São transparentes? É... pelo visto não sequei o andar de cima.

Algumas vezes, a escuridão visita meu espaço,

tentando compreender sua própria existência.

Às vezes, minha alma se materializa, e observo o quanto é humana.

Assim se forma o homem?

A solitude tem deixado meu quarto sempre arrumado,

seu ciúme aos outros me suga de volta.

Fugindo de elogios e críticas, alimenta apenas minhas dualidades.

O que devo aceitar? Minha imagem reflete em quem julgo.

Acostumei-me a odiar e amar.

Já estou submerso, a superfície ainda está tão longe.

Devo parar? Meus braços perderam as forças.

Sou eu que estou mergulhando até o fundo?

Quando comprei esta tela? O que exatamente estou pintando?

Por que existe medo e pânico nela? Perplexo, eu repenso:

compro uma pintura nova ou continuo minha própria arte?

Horas passam, e percebo a luz solar invadindo meu ateliê.

Não lembrava mais deste calor.

Noto surpreso, vejo tantos quadros na parede, ali encontro histórias, lembranças. Eu criei isso? Também havia muitas tintas, tão vivas que parecia que arco-íris tinha descido dos céus.

Não entendo, havia alguém todo esse tempo aqui comigo?

Este ser, de presença gentil, apontou em direção a outra tela branca.

Deixo para trás o que pintei, agora,

atendendo ao ser, dedico esta tela branca à minha verdadeira arte.

Sem propósito, vagava à mercê de meus receios.