Na imagem, Benício e Diana, meus netinhos queridos..

 

O país que abandona seus velhos, está abandonando seu passado. O país que abandona suas crianças, está abandonando seu futuro. O país que decidiu viver apenas seu presente, está condenado à ruína como nação.

A MORTE DA ESPERANÇA
JB Xavier


Me diga lá, seu dotô,
Cumé que arguém que pratica
Tanta bobage e indecência
Pode querê que lhe tratem
Com carinho e paciência,
E digam “Vossa Excelência”?

Me diga lá seu dotô,
Cumé que pode o sinhô
Tratar assim desse jeito
Aqueles que lá no peito
Estão sentindo essa dô
De sabê que do respeito
Que tinham pela nação
Nada sobrô, nem a mão
Que o sinhô nos estendia.
O que foi feito do dia
Em que o sinhô prometeu
Céus e terra presse povo,
Mas que, eleito, esqueceu
E não fez nada, de novo!

Nóis não lhe pedimo nada,
Apenas acreditamo
Na sua fala brilhante!
Eu mardigo aquele instante
Em que parei pra lhe ouvi.
E entra ano e sai ano,
E as mesma barbaridade
Eu vejo se repeti.
Nóis não lhe pedimo nada
E tudo o que nóis queria
Era só honestidade!!!

Mas para azar de nois todo,
Do sinhô veio o engodo
Que enganou todo mundo!
O que digo agora ao filho
Que vendo o país imundo
Emporcalhado c’ocê,
Fica até desanimado
De ir na escola estudá?
Prá que estudá, ele diz
Se essa droga de país
Nunca vai sindireitá?

Eu já não falo do velho
Que esquecido perambula
Pelas ruas das cidade
Sem que o sinhô se recorde
Do peso que tem a idade!
Para o ancião, seu dotô,
Cujo braço já tá fraco
Sem podê mais trabaiá,
Tudo o que faz é confiá
Que a nação que ele ajudou
Com esforço a contruir
Nunca vai lhe abandoná.
Mas o sinhô fica a rir
Na revista ou na TV
Que é prá todo mundo vê
O descaso que é o ancião.
E dessa sua risada
Vem a desesperançada
Fé nessa nossa nação!

O que me dói de verdade
É vê os zumbi na cidade
Com cinco ou seis anos só!
Criancinhas com idade
De ainda estarem no berço,
Na calçada a fazer dó!
Me diga lá seu dotô
Quando o sinhô se levanta
E vê na esquina a criança,
Bem lá na sua garganta
Não lhe aperta nenhum nó?
De quê que o sinhô é feito?
De que cimento imperfeito
Fizéro o seu coração?
Como, o sinhô, que tem grana
Mente, solapa, engana
Sem oferecê a mão?

Então perceba dotô,
Que o maió dos prejuízo
Não é somente o dinhêro
Que o sinhô de nóis robô.
Mais que o dinhêro, é o juízo
Que tá se modificando
No meio da juventude.
Eu, o sinhô não ilude,
Mas os que estão chegando
Na vida desabrochando
Cheios de crença e de fé,
Esses vão logo enxergando
Que ao votá estão votando
Sempre na mesma ralé!

Eu tô desesperançado
No fim da vida, cansado
De tanto ouvi suas promessa.
Mas um dia, deslumbrado
Eu também acreditei
Que o sinhô tinha essa pressa
De mudá nossa nação!
Me diga lá, seu dotô,
O que digo ao coração
Que no sinhô creditô
Toda a sua vida e esperança?
Eu sou rijo, seu dotô,
Sô hôme bem calejado,
Hôme de muitas andança,
E não tô só reclamando.
Entenda que essas lágrima
Que rola pelo meu rosto
São lágrimas de desgosto.
E se agora estou chorando,
É também pelas criança
Que o sinhô esqueceu.
É que hoje sou uma delas
Que infelizmente cresceu...
É que perdi a esperança!!!

Este cordé que lhe escrevo
Que fique entre nóis, apenas
Pois é o cordé da tristeza.
Tô lhe contando essas penas,
E que ninguém nunca leia
O que aqui escrevi.
Não quero influenciá
E nem desesperançá
Quem confiô no sinhô.
Outro dia da criança
Está se aproximando,
Então pense nisso, dotô!!!

* * *
Ouça o áudio deste poema

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JB Xavier
Enviado por JB Xavier em 09/10/2024
Reeditado em 09/10/2024
Código do texto: T8169934
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