Eu me propus, um dia, em aventura ousada,
achar tua alma por milênios procurada;
e, em sonho louco, cortado de esperança,
eu te busquei nas manhãs de primaveras;
e, entre as flores no jardim dessas quimeras,
eu te esperei com fiel perseverança!
Roguei, até, com profundo sentimento,
que eu a tivesse, somente num momento,
alma com alma, numa mesma emoção!
Sondei-te, em vão, nas manhãs ensolaradas,
no vai e vem das marés esbranquiçadas,
vendo o horizonte afundar na imensidão!
Eu me vi em madrugadas orvalhadas,
tendo dores de visões inexplicadas
que dentro d'alma me ardiam em solidão!
Cerquei-te em preces nas mansões angelicais
e, em tristes versos prometia em madrigais,
que por inteiro eu te daria o coração.
No entardecer, mergulhado em fantasias,
sentindo a brisa, em meio as ruas vazias,
eu revia a tua sombra em cada trilha!
Cantei-te o amor nas tardinhas vaporosas
e, nos versos de cantigas langorosas,
fui Dirceu a te sonhar com a Marília!
Mas tudo isto foi um prêmio ou foi castigo?
Por que me deram pensar, e estar contigo
se me isolaram nesta estranha saudade?
Eu pressinto o teu olhar, mas não te vejo,
a alma pulsa de desejo e não te beijo
e, a distância é dimensão da eternidade!
Ah! como é triste e malfadada a realidade,
cheguei cedo nesta vida e tu tão tarde,
e, por isso não és minha e nem sou teu!
Mas, que importa, neste mundo, esta distância,
se a minha ânsia também é tua ânsia,
se sofremos os dois, na mesma procura!