Ventos Uivantes

No quarto mórbido que habito, do murmúrio tolo e tristeza, lá fora, canta Deus nos ventos, tantos.

Deixei de olhar o sol, e seu brilho de vida, busquei as sombras de mim.

Pinto a morte e a molduro, um troféu pra minhas dores.

Não vi os ponteiros velozes, perdi a conta do tédio.

Chorei nas pedras da vereda, não plantei a rosa no jardim.

O menino feio mostrou a direção, cantava tão feliz na praça.

Na queda da alma e madrugada, vi um anjo sem asas.

Abriu a tranca, escancarou a claridade.

Rangeram de ferrugem e anciãs, as dobradiças da janela e ranzinza.

Era tempo, vi a invasão do sol, a ira da beleza, um pouco de Deus em tudo.

Saltei do fundo poço, da agonia e entranha, libertei o coração.

Achei graça da vida, perdi o medo da morte.

No quarto mórbido...

João Francisco da Cruz