Maria e Matheus
A Maria que das Dores é tão meiga
Carrega o sobrenome de amargura,
A impotência duma forma de teia
Coroada pelos nós duma ternura.
Maria salva alguns pobres da rua,
Oferta a caridade amando a graça,
Paga o ouro do cadáver e de sua
Penitência passada que lhe abraça.
As costas pesam pedras deslizantes,
Dorme com crucifixos e a fé tenra,
Maria tem sobre os olhos tão marcantes
A natureza, a relva sacra, a terra.
O contrário, Matheus apalpa a vida
Com o seu coração tão aventureiro,
Ele mastiga o fruto da comida
Que os tristonhos vomitam por inteiro.
Otimista e a pureza tão invejável
Atraem o olho inferior ao seu rosto,
Aqueles que se coçam com o amável
Jovem de rosto lindo e tão jocoso.
O sorriso é a sua fé que fisga o anzol:
Num calmo e envolto mar de novos peixes,
Matheus é salvação, a luz, o farol,
Presença desaguada em raios e feixes.
O dualismo é troféu de toda antítese:
Maria sofre com Dores já perpétuas,
Matheus apenas traz felicidade,
Maria apenas trouxe amor às pétalas,
Matheus alegrou o amor da mocidade.