Ritos Traídos

Sai da estrada, da eira reta, da beira bela, trai os ritos.

Da rua curta, ladeira escura, sol de tapados.

Quebrei a lei, perdi a pose, fugi do laço.

Subi no cume, no alto monte, estrelas vis, feio horizonte.

Rasgou o dogma, infringiu a cartilha, pulou o muro.

Da janela e grossa teia, da jaula que impõe limites, voou em fuga de passaredo.

O velho de mordaça sumiu, o ancião do quadro, caiu.

A casa da esquina e suntuosa, ruiu no segundo vento.

Sem cortinas, enfeites tolos, o céu se abrirá em tempo vindouro.

O cego passou a ver, o mudo bradou de verbos, as amarras se dispersaram.

Cairam sobre os chãos, os quadros velhos de molduras ocas.

Pintaram um novo jardim, exposto aos cegos olhos.

Sai da estrada...

João Francisco da Cruz