DESEJOS REVOLUCIONÁRIOS (Será publicado no livro: Cantos de Alerta)
Deus me dê garna
Deus me dê capim
Deus eu quero a minha alimentação
Que os bois tomaram de mim.
Deus me dê de volta a floresta
O meu fundo de quintal
Quero também um córrego com águas límpidas
Para eu tomar banhos e pescar.
Eu quero plantar arroz
Eu quero plantar feijão
Eu quero plantar mandioca, milho e abóbora
Eu quero plantar mamão.
Gosto muito de amendoim
Gosto muito de café
Quero uma fazenda para mim,
Pois já orei e rezei com muita fé.
Preciso de um pedaço de terra
Por favor, confie em mim!
Quero paz e não guerra
E belas flores em meu jardim.
O senhor anda muito ocupado
Com as suas contabilidades
Quero apenas uma grana meu Deus
Para eu não passar por tanta necessidade.
Eu quero um pedaço de sua terra
Para poder cultivar
Mas sua terra foi entregue
Ao grande capital
Por isso morro de fome
Nesse imenso cafezal.
A história de suas terras, meu Deus
É tão complicada
Trazendo às guerras santas
E as santas cruzadas
Passaram pelas sesmarias
E o processo de latifundização
Até agora continuo sem nenhum grão
De areia, meu Deus,
Imagine um torrão.
Deus me dê um grama do ouro
Em seu solo explorado
Não me deixe morrer de fome, meu Deus,
Isso é feio para o seu reinado.
Essa fome que eu digo
É de justiça também
É igual a fome de Jesus Cristo
Nosso maior representante
Que foi crucificado
Por discordar das falcatruas
Desse mundo tão danado.
Brasília – DF, 1999.