Casulos velhos
Casulos velhos
Afastaram se os demônios, o neurótico, as facetas, tais caretas, o bicho feio do ego.
Vendavais que bem levaram, chuvas e aguaceiro, o arcado, torto da esquina, o lixo, fecundo da rua.
Pegou atalhos, os seus retalhos, a roupa suja, e sacudiu.
E num sorriso, gritou aos céus, tomou a mala, se pôs andar.
De bancarrota e vil falência, da insuficiência, se liberou.
Quebrou os elos, curou os olhos, trancas, açoites, noite esvaiu.
Oh, inferno tolo, vermelho e corrente, diabos bravos, aprisionados.
Abriu se o campo, florais, jardins, sorriso e monte, sol despertou.
Era bem tempo, de enveredar, de tons e cores, céu, versejar.
Letras bonitas, de riso fácil, de passarinho, poetizar.
Ipês floriram, e margaridas, antúrios feios, ficaram belos.
Casulo velho, grosso e poeira, desvencilhada, casa bonita.
Oh, mariposa, voa entre as nuvens, semeia cores, dá volta à vida.
Alma em cadeia, desvenda os mundos, poços e fundos, tão soterrados.
Afastaram se os demônios...
João Francisco da Cruz