Aurora
Vejo o dia nascer numa manhã em pranto;
o frescor invade o fruir da vida.
Tão alva esta riqueza a despojar-se
sobre a minha alma cansada
e sobre um mundo de dúvidas,
embora não seja mais de angústias.
O pranto do dia não esconde o alvorecer
de uma vida serena.
O pranto não é mais de dor,
mas de uma tão sonhada resignação.
E já posso ver a luz da manhã abrir-se
como num sorriso, ainda que hesitante,
sobre todos os rostos de uma realidade
que não é mais de dureza extenuante,
mas de uma esperança vívida
no amor.
O amor existe.
Nos rostos desfigurados pelo tempo,
nos olhos embotados pelo trabalho,
o amor existe.
E está em todo lugar, em todas as obras,
ainda que invisível, destruindo os muros,
acalentando os injustiçados, libertando
os oprimidos da morte
e da insuportável (porém suportada) condição humana.
O amor existe numa manhã (mão) estendida,
numa atitude que ignora a crueza do mundo
e derruba todas as velhas falácias
contra uma existência pacífica entre os seres.
O amor existe e resiste através dos séculos.
Enquanto ele existir, a humanidade está salva.
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