Sebes noturnas

Cercas de veredas, passadouro estreito, sebes de entrelace.

E o vinho atordoava, a vista era turva, um medo de viver.

Fugiram as rosas, o aroma doce de quintal, o riso do pássaro, o amor de tempos, outro.

Amordaçada alma, lugarejo bem escuro, sebes como cipós.

E era o nó, que tão doído e apertado, na goela seca de deserto, o gargalo ardente, insistia.

Uma saída do inferno, um ingresso passageiro, um sono de embriaguez.

Um pesadelo e sonhos negros, a falta de anjos, mulheres de cera e demônios.

Corria minh'alma em gramíneas, arrastando num sufoco, pedira socorro à um cão.

E condoído, meneou a cabeça, mostrou aquele portal.

Na viração do dia, na hora do turno feio, escapuliu este ego.

E de sebes e cipós, de cadeias e trancas feias, calabouço e inferno, pisaram os pés para além.

E num instante de luta, vi um campal bem florido, umas trilhas de rosais e cor, uma vereda de luz.

A noite acabara e eu sorri.

Cercas de veredas...

João Francisco da Cruz