O lívido Lavrador
O lívido Lavrador lavra com amor a terra
Sob o azul imenso e o céu sem fim,
E os rios cantantes, em suas floridas serras
De águas puras, vão germinar o florido jardim.
O lívido Lavrador lavra a ceifada terra
Sob o sol calmo do amanhecer
Na leiva onde se cerra e berra
A enxada do plantar, do amar e do viver.
O lívido Lavrador lavra a abençoada terra,
Enquanto os montes observam em paz
A cantilena dos pássaros que não se encerra,
E a brisa suave que em seu rosto duro traz.
O lívido Lavrador lavra a sangrenta terra,
Com mãos calejadas e a alma serena,
O olhar perdido no céu, mas a alma não erra
A ária da terra arada: a vida é grande e pequena.
O lívido Lavrador lavra, na toada, a suada terra,
Na sombra do olival, ao meio-dia,
A natureza em torno sempre intensa se aferra
À eterna rotina, que o tempo floresce e desfia.
O lívido Lavrador lavra a calcada terra,
Enquanto o mundo gira devagar,
A lua crescente, em noite fria e sincera,
Observa o seu trabalho e o faz sonhar.
O lívido Lavrador segue lavrando a terra,
E no ciclo eterno de plantar e colher
Encontra na labuta a paz que no peito gera,
Nos trigais afagados pelo sol e pelo chover.
O lívido Lavrador lavra a leitosa terra,
Sem pressa, sem pranto, sem ilusão,
E a terra responde, mãe que aflora e soterra,
Aos sonhos, aos dias e à calma do meu coração.
O lívido Lavrador lança seu suor, amor e labor,
Lavra a terra em laivos de luz e de dor;
Sob o luar, leve, lento, violento e tão laborioso,
Dos grãos aos frutos, vede: tudo é misterioso,
E tão... tão maravilhoso!