Moinhos
Moeu como a mó, a pedra, em estilhaços, o tempo velho e vereda.
De migalhas, restos, pó, de poeira e passado, o nó tão desatado.
Era aguda a pedra dura, afiada de corte e dor, o sangue escorrido e chorado.
Insistiu de teimosia, a água funda, a lama tola, a pedra que apertara o sapato.
De manco e sujeira, o moço estava de rugas, cansado e ébrio.
Esmiuçado o tempo de outrora, a cortina que desgasta, o quadro feio e moldura.
Era tempo, os ventos mudaram.
E os moinhos moveram, esmagou com dor, tritura, o pó que sepulta, amargura, a pedra da insensatez.
E o velho feio, abatido, de pedregal, iludido, tornou se um menino de areia.
E o pó bem miúdo, prensado, deixou teimosia de lado, jazia a pedra de tropeço.
E do caminho saiu, da rocha larga, emperrada, brotou no chão, roseirais.
João Francisco da Cruz