O choro de existir e de amar
Choro eu; existo, por conseguinte!
Choro tanto que chego a enlouquecer
(O que minhas caladas lágrimas tentam esconder?)
Ora, meus irmãos, sinto-vos tanto e vos choro até me rasgar,
Ora só me perco onde estou e apenas existo,
Se choro ou se só existo, a dor não desaparece: só grito
Grito por tamanha dor incompreendida ao contemplar
A inexistência assombrosa do vosso inexistente olhar,
“O que é real?” Esta dor é real, mas a vida não consiste só em durar
Existir não é viver, existir é render o ser ao nada!
Assim como Viver não é meramente Existir;
Viver é sonhar, cantar, cair, amar, chorar, sorrir, seguir
Existir é apenas durar como uma casa abandonada na estrada
Existo ainda, por isso continuo sofrendo
Sofrer é perder amor e sentido à vida, que não se está vivendo;
E tenta-se e tenta-se seguir, porém o existir virou tristeza e tormento
Eu sinto tanto, portanto existo tão pouco;
Vossas ausências semeiam em minha essência
Uma chama ferida que me queima qual inferno louco
Se não existo, não existo porque tanto não chorei?
Se existo, não existo porque nada há e só pranteei?
Quanto mais meu ser afoga-se em profundo pranto
Menos eu entendo e menos me existirei em qualquer recanto
Se existo eu, não sei por que existo
Ou por que algo ou alguém sequer existe,
Pois ou as coisas existem porque apenas existem
Ou as coisas não existem porque nada há ou tudo é somente triste
À proporção que cresce em mim a sensação de existir
Menos compreendo o porquê de qualquer existência
E os corvos tristes da alma choram pela incoerência
Ao voar e ver o absurdo irreal e visível da vida a tanto balir
Existo porventura e finjo que finjo não chorar
Choro meus erros e quero me sepultar
E, nas entranhas da terra, quero tanto vos abraçar
E enterrado lá naquelas absurdas profundezas
Poderei eu ressuscitar a indelével beleza
De vossos risos a brincarem no quintal com aquela pureza
E enlaçado com os vossos corpos, em sono, sepultados,
Vou acordá-los e vê-los abrir vossos olhos, estupefatos;
Vou chorar o milagre dos meus amados irmãos despertados,
E confessar-vos-ei todo o meu infinito amor até então inconfessado.