Eu comigo mesmo

Por muito tempo me afastei de mim mesmo e conforme ficava mais maduro, menos gostava do que fui.

Me culpava por coisas passadas e discutia com meu eu passado de homem pra homem, quando na verdade, ele era só um menino... ao invés de acusar, deveria ter acolhido, pois por conta da falta de experiência era natural que certos erros bobos acontecessem.

Percebi que meu eu não estava apenas amadurecendo, mas ia se tornando ranzinza e amargo... daquele tipo de velho que odeia barulho de crianças jogando bola.

De tanto criticar meu eu passado que era apenas uma criança indefesa, ele fugiu e se escondeu e então só me restou o eu que ficava cada vez mais rabugento e amargo.

Até que certo dia o eu ranzinza se deu conta que a criança não estava mais lá e ele sentiu falta... Primeiro de ter de quem reclamar, e depois, de ter com quem falar, e depois, de ter quem aconselhar... e depois, de ser aquela criança.

Meu eu rabugento então se levantou e decidiu ir atrás do menino que já foi... infelizmente ele não o encontrou. Voltou triste e sem esperança, começou a se lamentar de si mesmo pelo que se tornou e por não ter mantido a criança junto dele... por sorte, o menino reapareceu e disse que apesar do velho ser duro com ele, ele o amava... e como uma criança inocente, perdoou o velho sem pensar duas vezes.

Hoje o velho continua mais experiente do que já fui e sou, mas menos rabugento e amargo, isso porque a doçura e inocência do menino o acompanha.

E quanto a mim... eu sou o responsável por sustentar esses dois, seja passado, seja futuro... pois eu sou meu presente.