POBRES ESCRITORES A PENSAR NOS OUTROS

Hoje acordei pensando no social.

Estou na parte média da pirâmide,

que é como eu me refiro agora

à constituição da sociedade.

Na pirâmide ocupo o meu lugar

na parte média. Não digo média

baixa nem média alta, não

interessa. Dito de outra forma

sou classe média e passei a vida

trabalhando pela mera subsistência.

Ganhando, almoçava e jantava

e me vestia. Casa sempre tive.

Com o que sobrava comprava

livros, e ouvia de minha tia:

- Livros estão muito caros!

Ela podia falar, economizara e

comprara um apartamento chic.

Eu olhava para ela e ria, ria o riso

dos poetas: Afinal ela era feliz

daquele modo. Faleceu e nos

legou o primo nosso, filho dela

e do marido. Eu moro aqui na

casa dos meus pais falecidos

e já cumpri o luto pela morte deles.

E vou dizer: - Meu social é pequeno,

consiste em ver os meus irmãos e irmãs,

e em tratar na palma da mão

a empregada que trabalha para mim.

Aqui no final, vou um pouco além:

existem os pobres de quem me lembra

a empregada e deles ela fala

que os conhece e que entre eles

há aqueles que querem ser escritores.

O que fazer? O que dizer a eles?

Aristides Dornas Júnior
Enviado por Aristides Dornas Júnior em 04/12/2023
Código do texto: T7946598
Classificação de conteúdo: seguro