POBRES ESCRITORES A PENSAR NOS OUTROS
Hoje acordei pensando no social.
Estou na parte média da pirâmide,
que é como eu me refiro agora
à constituição da sociedade.
Na pirâmide ocupo o meu lugar
na parte média. Não digo média
baixa nem média alta, não
interessa. Dito de outra forma
sou classe média e passei a vida
trabalhando pela mera subsistência.
Ganhando, almoçava e jantava
e me vestia. Casa sempre tive.
Com o que sobrava comprava
livros, e ouvia de minha tia:
- Livros estão muito caros!
Ela podia falar, economizara e
comprara um apartamento chic.
Eu olhava para ela e ria, ria o riso
dos poetas: Afinal ela era feliz
daquele modo. Faleceu e nos
legou o primo nosso, filho dela
e do marido. Eu moro aqui na
casa dos meus pais falecidos
e já cumpri o luto pela morte deles.
E vou dizer: - Meu social é pequeno,
consiste em ver os meus irmãos e irmãs,
e em tratar na palma da mão
a empregada que trabalha para mim.
Aqui no final, vou um pouco além:
existem os pobres de quem me lembra
a empregada e deles ela fala
que os conhece e que entre eles
há aqueles que querem ser escritores.
O que fazer? O que dizer a eles?