Desapego

Quando eu percebi já estava ostentando com a melhor marca de máscara, Tinha planejado tudo antes de sair naquela tarde de sol.

Eu queria sentir a pele arder Ou me afugentar em qualquer lugar que pudesse pegar sol na cacunda, e foi com muita sorte naquele calor infernal que pude sentir o assopro do vento e a brisa do mar.

A praia fica a poucos metros de distância, a minha vontade de beijar as ondas se mostrou num sorriso escancarado. Era um sonho acordado que me fazia pensar em algumas rimas, porque a poesia já estava pronta. Eu ouvi uma sirene soar. Os meus ouvidos jogados a própria sorte recusaram-me a decifrar.

O pior estava por vir. Eu passeava no meu carrao com a melhor máscara do mundo

Uma chuva repentina caiu e o retrovisor me mostrava uma fila de retardatários fugindo do confinamento.

cobriam seus rostos com panos. Na TV, nos jornais e nas mídias sociais noticiavam o caos. Haviam pessoas zombando do desespero das outras. Eu continuei tentando chegar a praia com o meu carrao.

Eu só queria o fevereiro e o sol ardente do carnaval me convidando para o banho de mar. Mas as notícias que chegavam continuavam a assustar.

Era uma guerra com batalhas se formando mundo afora, existiam trombetas tocando para recolher os corpos. Haviam barricadas trancando as portas e janelas dos lares .

O inimigo é implacável. Os terráqueos na corda bamba exibindo-se em suas motociatas.

Nu, cego, sem endereço, sem posses, sem reveion nem carnaval, sem olodum, sem fantasia nem samba. Mas o povo acuado invadindo o limite do cartão quase teletramportado pra dentro do submarino. A máscara tinha que ser bem encaixada pra não sugar a morte.

Nem as igrejas largaram o osso, o inimigo não tinha chifres mas oferecia uma besta invisível em seus cultos. Os templos nem sempre vazios. Os ternos e vestidos de grife exibidas junto a fé de muitos, um ateu implorando um respirador que seja.A ameaça não vinha de calças nem de saias. Não brincava de bolas e tampouco empunhava uma espada. Os inimigos invisíveis se multiplicavam em corpos, penetravam em salas, cozinhas, em quartos paupérrimos, mas nos alpendres arejados haviam canto e festas, como se a pele que reveste o corpo humano fosse o mais puro reluzente dos ouros e nas ruas, máscaras, as melhores marcas, coloridas e de time de futebol, logo marcas de empresas e por todo lugar, como um espírito de porco faminto devorando mais um corpo abatido. Nu ou vestido, pobre ou rico, invadido suplicava por ar. A morte cavalgava pela longa estrada escura e fria. Ouvia se grito no horizonte, espanto. Como se todos nós fôssemos pegos por uma chuva fina, longa e fria. Nosso frágil corpo sendo envenenado, afogando nas próprias lágrimas. Era o início de não saber oque fazer com tudo que possui, o triste fim de 6 bilhoes de sonhos passado no débito e no crédito , uma operacao não realizada com sucesso batendo á porta da casa de cada um de nós.

Eu, voce e os negacionistas lutando com unhas e dentes entre agulhas e cloroquina. De um lado embaraçosos pedaços do que restou do muro de Berlim. Do outro lado incertos beijos e abraços, cientificamente conectados à zona da grande guerra.

E eu só sai de casa querendo sentir o calor do sol queimando a minha pele, deixar o vento e a brisa do mar me tirar o fôlego e ostentar com o.meu carrao e a minha máscara de marca, mas desta vez tive que vestir a armadura de um gladiador. Esquecer um pouco este paraíso monetário, financeiro, conumidor e encorajar o meu corpo a travar uma luta na arena com os leões. A sobrevivência é uma incógnita. Fevereiro só vai haver carnaval quando a vida novamente nos devolver o horizonte.

Gueko
Enviado por Gueko em 14/09/2023
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