SÓ UMA VEZ

Só uma vez;

queria ver a aurora boreal

Brotar durante a noite, alterando o cristalino, na mais profunda escuridão, próximo ao polo norte, nas geadas glaciais, nas terras do além distantes, como um vapor colorido,

Atravessar as muralhas da China, numa longa andança, descalço, sentir cada pedra massagendo o solado do calcanhar, colher cada flor que brotar nas rachaduras da estrutura, deixar a brisa levar cada petala,

Escalar o monte everest, lentamente sentir a poder da feroz natureza, soprando ventos gelosos, me abraçando sem dó, nem piedade

Só uma vez;

Andar na linha do equador, no sentido leste oeste, sem desequilibrar, de braços abertos, como numa corda bamba, num palco de ilusões, andar, andar e andar, quem sabe dar a volta ao mundo tendo ela como meu guia, quem sabe um dia, dois dias,

Voar nas asas da imaginação, junto dos gigantes condor, lado a lado, sem asas para bater, apenas voar, planar e voar, olhar para baixo e me ver andando na linha do equador, sem sobra para levar,

Surfar nas ondas do Havai, deslizando como quem voa entre as nuvens, na certeza de que manterei o equilibrio, no desequilíbrio da prancha, parando lentamente sobre as areias da praia, sendo aplaudido por estrelas do mar, caramujos, currupião, conhas e ostras

Viajar no expresso do oriente, partindo de Istambul, com destino a Paris, escutando o estopim do anônimo tiro dado a meia noite, no meio da sala, um corpo caido, sem vida, deparando-me com Hercules Poirot, numa cena de suspense cinematografica, exibida pela 7ª arte

Contracenar com Leonardo de Capri em D'jango Livre, sentado naquela mesa, negociando uma liberdade, a de um amor eterno, sentindo omprojetil no peito, penetrando e dilacerando o coração, entre pessoas, entre pessoas presas por um tirano de tempo absoluto

Quem sabe, só uma vez;

Já séria suficiente para afirmar: a vida valeu a pena!