O Fantasma da Esperança
Palavras espinhentas e mal-educadas
Tiram-me compostura
Entornam a tinta antes depositada em mim
No chão, tal qual sorvete derretido
Restando apenas fantoche duro
De aparência incolor e recheio cinzento
Perco vínculo com gravidade
Meu espírito se torna um nada
Em questão de peso
E aparente importância
O que é bom apenas passar
Despercebido por mim
Ao invés de ser retido
Na visão de mim mesmo
Sou apenas um fantasma
Um último registo meu
Navegando vivo pelos ares
Alheio à tudo que me prende
Em terra e me faz sentir
Ativo, vivo e presente
Minhas mãos não tocam mais
A mim mesmo
Porém seu toque ainda é percebido
Por outros
Esses outros que notam minha falta
Se apetecem da minha presença
Tomam a mim como estimada pessoa
Cujos dizeres elicitam estouros de felicidade
Uso-as para forjar sorrisos em seus rostos
Dar a eles esperança e motivos
Para levantarem de seus leitos
Flutuo por cima deles para servir
Como lanterna para suas escuras
E tortuosas jornadas
Porém longe de serem impossíveis
De serem concluídas
Assim que chega o momento
No qual sinto a gratidão fluir em mim
A tinta volta a correr sobre mim
A gravidade me puxa de volta para o chão
E o sentimento de prazer, antes tão
Inalcançável, volta a ser
Palpável