O Fantasma da Esperança

Palavras espinhentas e mal-educadas

Tiram-me compostura

Entornam a tinta antes depositada em mim

No chão, tal qual sorvete derretido

Restando apenas fantoche duro

De aparência incolor e recheio cinzento

Perco vínculo com gravidade

Meu espírito se torna um nada

Em questão de peso

E aparente importância

O que é bom apenas passar

Despercebido por mim

Ao invés de ser retido

Na visão de mim mesmo

Sou apenas um fantasma

Um último registo meu

Navegando vivo pelos ares

Alheio à tudo que me prende

Em terra e me faz sentir

Ativo, vivo e presente

Minhas mãos não tocam mais

A mim mesmo

Porém seu toque ainda é percebido

Por outros

Esses outros que notam minha falta

Se apetecem da minha presença

Tomam a mim como estimada pessoa

Cujos dizeres elicitam estouros de felicidade

Uso-as para forjar sorrisos em seus rostos

Dar a eles esperança e motivos

Para levantarem de seus leitos

Flutuo por cima deles para servir

Como lanterna para suas escuras

E tortuosas jornadas

Porém longe de serem impossíveis

De serem concluídas

Assim que chega o momento

No qual sinto a gratidão fluir em mim

A tinta volta a correr sobre mim

A gravidade me puxa de volta para o chão

E o sentimento de prazer, antes tão

Inalcançável, volta a ser

Palpável

Caio Lebal Peixoto (Poeta da Areia)
Enviado por Caio Lebal Peixoto (Poeta da Areia) em 20/04/2023
Código do texto: T7768294
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