O Coração
Remexendo minhas gavetas, lá no fundo,
Encontrei algo sem uso, abandonado,
Tinha vida própria; um soluço profundo,
Aparentava há tempos estar ali jogado.
Tem uma cor vibrante, um vermelho rubro,
Sua forma cardioide impressiona ao ver;
Não sei do que se trata, mas logo descubro,
Deve ter valor; algo para se manter.
Por tanto tempo aqui guardado, em desuso,
Nunca fez falta e ninguém reclamou ausência,
Um desleixo sem causa me deixa confuso;
Quero saber a origem da real existência.
Consultando a memória de um tempo distante,
Lembro: por desuso, meu coração guardei,
Lá, isolado, dentro de uma velha estante,
Larguei-o; abandonado, algo que tanto amei.
Tomei em minhas mãos, abri para ver por dentro,
Surpreendi-me com tantos compartimentos,
Lá encontrei nomes e tinha um bem no centro;
Era seu, senhora de tantos sentimentos.
Fui lembrando aos poucos de sua utilidade:
Tinha quatro cavidades bem definidas,
Aqui fica o amor; do outro lado, a saudade,
A gratidão, a paixão; todas bem repartidas.
Resolvi devolvê-lo ao seu local de origem:
É fácil viver sem amor, sem gratidão,
Sem saudade ou sem paixão, porém, ninguém,
Pode viver sem partilhar o coração.