A última madrugada sem fim
És bela sim, por natureza,
Esbelta aos olhos do luar,
Onde se afloram canções inigualáveis
De silêncio.
Ou, às vezes, de cantos agonizantes
De pássaros ao longe,
Que não se sabe de onde vêm.
A pouca e leve brisa no rosto
Determina o branco e frio do
Corpo, sentado na calçada
Solitária defronte à avenida
Silenciosa e pouco iluminada.
Ainda é escuro e a alma
Perdida mira uma escuridão
Que não sente nem espia.
Entre doces perfumes e
Pensamentos recônditos,
Há uma solidão embriagada
De ocultas indecisões.
A luz de uma aurora
Distante reflete
Ainda mais dúvidas
De uma rebelião interna
Que se trava entre corpo e alma.
Sem rumo, sem direção,
Sentado apenas,
Buscando a inevitável luz,
À procura da solução.
Em meio aos raios solares
Que penetram a alvorada,
Nasce a certeza de que nada
Dura uma vida inteira,
E que várias coisas acontecem
Em contextos diferentes.
Com isso, descobre-se que
O nosso maior medo é recomeçar,
Mas que não vale a pena se perder,
Pois em meio a esta sórdida embriaguez,
O que importa é amanhecer.
Deixa amanhecer...
Há mil motivos para viver.
⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀ ⠀ "Oh! madrugada de ilusões, santíssima,
⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀ ⠀ Sombra perdida lá do meu Passado,
⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀ ⠀ Vinde entornar a clâmide puríssima
⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀ ⠀ Da luz que fulge no ideal sagrado!"
⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀ ⠀ (Augusto dos Anjos)