“Asas de cera, a certeza da morte e o sonho de Ícaro"

“Asas de cera, a certeza da morte e o sonho de Ícaro"

Ô vida arriscada, nossa quanta besteira, viver sonhando com a morte, sonhando em tocar a Estrela.

Estrela, linda Estrela, Estrela da minha cidade, arriscaria perder as ceras das minhas asas em busca de reciprocidade.

Estrela, bela rainha, se as ceras que colam as asas dos meus sonhos, suportassem só por segundos o imenso poder dos seus raios, arriscaria sonhar mais alto e nessa peça protagonizar.

Estrela, voar em direção aos raios, que chamo de braços, mesmo significando a morte, seria um prazer eterno, mas vivido em apenas segundos.

Chama-me Estrela, mais vale ser pulverizado pelo calor de suas entranhas do que viver no labirinto, onde as pedras dizem me amar.

Deixe-me queimar a cera das minhas asas e morrer feliz.

Estrela, há prazer em olhar para ti só de relance, ou através da parede de desilusões, pois o humano pode viver sonhando com o céu, é direito, mas não pode experimentá-lo ainda vivo.

Oh Estrela de beleza única e existência infinita, me perdoe em sonhar tocá-la, logo eu que tenho os dias possíveis de serem contados com as mãos,

Chama-me, quero ser dissolvido pela poeira do tempo, só por pensar em uma aproximação, mas, alegre em saber que se fosse possível tal acontecido, seria aceito.

Chama-me Estrela, os dias estão passando!

Se me chamar Estrela, ou quando o fizeres, e as ceras das minhas asas derreterem, isso, antes de atingi-la,

permita que o odor das minhas penas, queimadas por seu calor, se aproximem de ti, a ponto de confundir a quem pensar sobre o assunto,

não permitindo entender se foi meu cheiro que chegou a ti, ou seu raio que me tocou.

De qualquer jeito morrerei.

Sorte minha, Estrela, no labirinto mundano onde as pedras interagem, resta-me o risco de queimar as ceras das minhas asas na pretensão de a encontrar. Olha pra mim Estrela, pois a morte é certa.

Estrela, brilho da minha vida, não fuja, fique onde estás, pois quando as nuvens se interpuserem entre mim e ti, quero apenas a certeza que a conheci, e que você não está longe, está ali.

Sonhar é como ter asas de cera, se o destino não for bem traçado, não nos leva muito longe, ainda mais se o objetivo for o sol com apelido de Estrela. Mas porque não sonhar se a morte é certa?

Estrela seu mundo é frio, mas cheio de eventos diferentes, chama-me para aquecê-la, espero que minhas asas aguentem. Mesmo assim, ainda morrerei.

Estrela, seu amor é a cicuta que aspiro tomar, tudo pelo prazer de saber que, se ingeri-lo, morrerei, mas, se afastarem de mim esse cálice não sobreviverei. JAILTON SILVA