SUB-VIDA EXTRAVIADA
"Porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus."
Colossenses 3:3
Perdi minha antiga vida
Nos passos que deixei pra trás
Não sei ao certo se a deixei em algum lugar
Nem sei se me distraí demais
E ela caiu do meu embornal
Quem pode me dar notícia
Ou ao menos uma pista
Deste entulho colossal?
Recompensa-se muito bem
Quem souber seu paradeiro
Mas não perca muito tempo
Seu precioso tempo neste intento
Se o acaso por acaso lhe brindar
Com esta nefasta descoberta
Me procure assim mesmo.
Mais ou menos assim é minha velha vida:
Meio nua e meio vestida
De um fardo insuportável
De vitórias descomedidas
Sofregamente vencidas
Uma a uma sem perder nenhum detalhe sequer
Seu odor é etílicamente destilado
Propositalmente arranjado
Para tirar um pouco da sobriedade
Que ela sempre me impôs
Talvez você a encontre, quem sabe,
No Mar dos Afogados Desamores
Situado em meio ao Deserto Decolores
Cercado de pretas e brancas flores
De Solidões Dissabores
Sua aparência certa talvez há te de confundir
Pois se tiveres a infeliz coincidência
De trombar com ela pela tua estrada
Hás de achar que estás tendo uma miragem
Ao ver teu reflexo estampado
Na sua face cromada
E ao mesmo tempo desgastada
Pelo zinabre que o chicote
Nas mãos do destino lhe causara
E ainda corres o risco de que te ludibries
Com o brilho de falso arco-íris
E queiras dar lugar a ela
Pra que nuble os sonhos teus
Para que enxugue de dentro de ti
O teu Mar-imensidão
Apoderando-se então do açude
No vau do teu coração
Desembocando sua foz seca
De árida desertificação
Se tiveres notícias de minha velha vida
Me ligues, me escrevas uma carta,
Mandes-me um telegrama
Dizendo onde ela está
Se souberes onde ela paira ancorada
Me digas, não me prives desta nova
Não me imponhas este tormento
Por favor! Me diga!
Se tiver alguma prova certa do seu paradeiro
Por favor! Me diga!
Se souber o seu itinerário
POR FAVOR! ME DIGA!
Se souber em qual boemia ela se encontra embriagada
E jogada em uma sarjeta me diga
Que irei correndo na direção contrária (GARGALHADAS)
E em veloz disparada
Numa carreira desenfreada
Para o mais longe que eu puder me encontrar!
Pois não desejo mais nada
Deste velho fel amargo
Desta casca mortificada
Nesta placenta fossilizada
Que um dia deixei jogada
Em meio aos retalhos meus
Quem souber dela me avise
Para que eu firmemente concretize
Minha célebre decisão de nem dela me lembrar
Pois sigo adiante em frente
O caminho que me foi proposto
E ao seu final serei arrebatado
Por aquilo que ansiosamente me aguarda
Perdi minha velha vida
E vivo agora uma vida que espera ser absorvida
Por uma novidade de vida
Não sei como se chama
E em qual sinônimo se clama
Alguém que perdeu a vida
E sem vida espera em vida
Pela recém-vida que ainda vai chegar
Perdi minha antiga vida
Mas aguardo nova vida
Que esplendidamente escondida
Está por se manifestar em qualquer tempo
A qualquer hora em qualquer lugar
E há de me revestir de vida
Não uma vida descartável e temporal
Mas tal como a ostra martirizada pela pérola
Serei recolhido em depósito
Para um tesouro eterno
Perdi minha antiga vida
Mas minha nova vida está escondida
Na vida que me redimiu
Perdi minha alquebrada vida
Minha jurássica vidassaurus
Sub-vida extraviada
Nada perdi, só lucrei.
30 de janeiro de 2008 14:00hs