VELHO DE NOVO

Você virá, desacreditado por uns, ovacionado por outros, abraçará a todos.

Virá com as mãos sujas a condenar os inocentes, a boca vazia dos

famintos, sem o cobertor dos mendigos, sem a sinfonia alegre dos pardais;

ou com a roupa lavada no rio da esperança, ou com a justiça flertada de

democracia, ou com a alforria sob suas asas rindo seu melhor riso.

Até mesmo com o empoderamento de belas surpresas cintilando boas

expectativas, com o sonho renovado do espancamento que o deixou quase

sem vida, com o renascimento da arte brotando da imaginação criativa que não

cessa, mesmo assim você virá.

Virá para nos dizer o que somos, o que queremos.

Virá para nos dizer que há uma luta guardada dentro de você, cuja vitória

nos fará crer que é possível viver em harmonia com as diferenças e as

afinidades estendendo o tapete de visitas.

Quem sabe, após o tombo teremos melhor consciência de nós mesmos,

enquanto limpamos as feridas.

Você virá, quiçá com a resistência colorida de afeto, com o vigor plantado em

nós, com o sabor das frutas, a dança das árvores, a água lavando as

almas sujas, com os copos erguidos pelas mãos dos ressuscitados.

Você virá, quiçá com uma sede monstruosa reparando a fleuma que rasgou a

carne social, esgarçando empatia até o limite que suporta, recendendo o aroma

das orquídeas que a indiferença da espera suplantou.

Quiçá, virá com um sorriso no canto do olho esquerdo, sinalizando que o temor

se dissipou, e o momento será ainda maior vertido pelo infinito,

guardado num presente, enterrando a amargura na caixa escura,

libertando a depressão que se aprisionou num porão sem porta.

Quiçá, dentro de um arco-íris debruçando júbilo.

Bem-vindo ao ano velho de novo, sem rosto, bem-vindo dois mil e vinte e dois.

Orlando Alves Ribeiro
Enviado por Orlando Alves Ribeiro em 29/12/2021
Código do texto: T7417683
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