HOJE

Somente hoje, estenda a luz do seu abraço ao garoto que lustra seu sapato,

como se tocasse na orquestra sinfônica mais importante de sua vida.

Distribua loas aos passantes que andam à toa pelas calçadas a ermo.

Atravesse o olhar do flanelinha com o brilho do seu, nos dezembros

que doem das festas que não vivem.

Estenda a mão sobre o pão que não vem, porque a colheita de tão gorda

vai de jatinho.

Apenas hoje, ressoe palavras ao vento que siga e vibre as estruturas

empoeiradas das máquinas que trituram sonhos.

Secrete ao coração de vidro o impacto do amor lançado na flor que

despreza.

Risque sobre a textura frágil do pano, o abandono sem pudor que o horror

carrega.

Só hoje, sussurre no ouvido da dúvida a ação que alimenta a placenta faminta

do filho que gera.

Repouse o vigor sobre o cansaço nas rugas dos anos, como arestas

sombreadas sob o sol da longa estrada.

Deixe que a loucura invada a ternura deserta no peito alado que o silêncio,

apressado calou.

Orlando Alves Ribeiro
Enviado por Orlando Alves Ribeiro em 29/12/2021
Código do texto: T7417681
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.