POESIA MARGINAL

Nós é poeta marginal.

Desses que corre a milianos nas vielas escuras sem ser visto.

Que escreve a vida toda na madruga, mas não pode ser lido. Não por qualquer olhar, nem tente nos poupar.

É poeta de rua, que vê além do véu, que mudou a cor do céu, que vê a carne crua, nua, exposta, caída nas ruas.

Jogadas às traças, pretas de tranças menosprezadas. Comparadas, humilhadas. Mulheres estereotipadas. Estigmatizadas. Compradas, usadas e largadas. Poeta perdido das ruas vazias, das trocas falidas, das almas jazidas pela cidade grande que devora.

Que corrompe. Guerra sem fronte. É batalha perdida meu irmão!

Pelas ruas a noite, posso ouvir o som, dos gritos abafados pelas rodas dos carros, dos choros escondidos em travesseiros, da conta não paga gritando em pesadelos. Posso sentir os corações disparados inquietos em cada quarto. Cada janela iluminada, na tentativa vã de companhia, luz pra clarear a agonia, nas noites mal dormidas. Gemidos e pecados. Oprimidos, omitidos, perdoados. Nunca (h)a paz.

Tudo registrado em traços, mas no canto das folhas, minhas letras não cabem em pautas. Por serem tantas, estão à margem, pique marginais alados. Alçando vôos rasos entre frases perdidas. Vôos perdidos em frases e pessoas rasas. Adjetivos em brasas. Ainda que sem forças, insiste em queimar. Também à margem do peito, chama que não tem mais lugar.

Daiane Alves
Enviado por Daiane Alves em 13/12/2021
Código do texto: T7406521
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