O TEMPLO DO AMOR I

(Luiz Carlos de Almeida)

I

Nas montanhas temperadas na antiga Europa,

Entre o trepidar esperançoso de gostosos riachos,

Há um abrigo vigoroso e agreste flora,

O ardor carnal, o desejo e a sublime glória

Que Deus guardara prevenindo o crime

Em fundas clareiras que da terra brota.

Atalanta pelas nuvens velozmente emergia,

Volúpia e sangue no seu peito aberto,

A chaga em seu corpo não era a fadiga

Mas a dúvida a queimar sua psicologia

Que a deixara oscilada e em total flagelo

Enquanto caia naquelas diversas rosas e lírios.

Três dias e noites ela dorme tranquila,

Perfeita era a relva, as flores, a brisa e

O abrigo ao orvalho. O sol e a gentil lua

Por todo o tempo lhe vigiava:

Um presente celeste de quem a guardava,

A protetora, Diana, que seria Deusa sua.

Com as datas se transformou em musa, augusta e forte,

Atalanta só se fortalecia, sobrepujando como diva em graça.

Cresceu com potência de uma guerreira astuta,

Nas montanhas de terras de batalhas e caças

Que lhe proporcionou o corpo com beleza absurda,

O qual atraia o desejo dos homens sem graça.

Ah! Que musa! de corpo de curvas gostosas, afáveis e pele

De um moreno que emana calor, sensualidade e virilidade feminina,

Cabelos com ondulados cachos dançando pela sua cintura pequena.

Acariciando a esbelta curva, com as pontas que refletem o fascínio

Que é superado apenas pela presença de seus olhos de um verde anil,

Que encanta como uma lâmina de excitação selvagem e acalorada!

Pois dois desses homens, com grande volúpia se apaixonaram!

Que nem de todo eram homens, mas sim dois centauros,

Seres que de cavalos abaixo do tronco e homens pra cima,

Eram famosos pela falta de virtude e no vício largos,

Atacam Atalanta em uma noite de fúria, velados na esquina,

Mas ela os atinge com a lança, sendo então expurgados.

Numa certa época Diana, com ira obscura,

Porque o rei da Caledonia não lhe ofereceu oferendas,

Pela afortunada colheita de legumes e frutas,

Envia um grande javali com a boca faminta

Que afoga o reino inteiro em uma tortuosa desgraça,

O que mobiliza os guerreiros mais bravos em contingência.

O Javali Caledônio: três metros de altura o monstro,

Quatro em comprimento, grandiosa largura e três mil quilos,

Da sua imensa mandíbula com dentes longos, cuspia lava e fogo,

Dos seus vermelhos olhos emanava metal e raios,

Os músculos colossais tremia a terra em estrondos,

Provocando calamidade e dor, matando e exilando o povo!

Inumeráveis noites todos àqueles guerreiros,

Caçadores, atletas, espartanos, argonautas e até alguns heróis,

Galgaram as florestas, montanhas e os rios mais frios.

O sacrifício era torturador combatendo àquele animal bisonho.

Nos seus olhares não fluía mas sonhos, depois de três anos...

Foi quando Atalanta entrou para centúria, como um trunfo.

Após dois semestres o clima fora transmutado pela estiagem,

O sol tornou-se ardente como prenunciando o esplendor.

Os combatentes todos admirando em Atalanta o vigor,

Porque ela se robustecia ainda mais linda nas batalhas,

Com um porte afirmando sua grandeza lendária...

Quando que..., de súbito! Rasgando o solo, surgiu o monstro!

A musa fita com olhos agudos de alerta, êxtase e ânimo,

As pupilas ardentes daquela máquina de dilacerar humanos!

Todo pelotão, com uma agilidade ríspida ficou agitada,

Entrando prontamente em prontidão de guarda...

O campo mergulhou em trevas, tomado pela escuridão, e

Só Jasão viu entre a névoa, Atalanta ferir a besta com a espada!

A fera foi pela confusão tomada com o corte esmagador,

Mas se debatendo ficou e rugindo gutural som estranho,

Quando de repente Meleagro, fazendo todo esforço

Num dinâmico movimento atravessa-lhe pelo olho o crânio

E o javali se curva no chão, entrequebrando o dorso,

Com o sangue fervente das feridas jorrando.

No campo de batalha pelo sangue afogado,

Escombros das casas jaziam, vapor e escuridão que cobria

Toda a paisagem que antes para a vida

Dos camponeses servia, agora então dilacerados...

Porém surge a vibração da vitória, a esperança reinicia:

Atalanta carregando a pele metálica do javali nos ombros!