O mar e eu
Eu continuo tentando
Em toda santa madrugada
Todo sagrado amanhecer
Eu uso toda firmeza de minhas mãos
Pra segurar a cabeça sobre o pescoço
Cada vez que a noite cai
Toda vez que o sol retorna
Tudo fica cada mais turvo
Aos olhos do corpo e do coração
Em voltas e em giros, cheios de graça
Os astros ao longe cumprem seus ciclos
Em subidas e descidas, arfando com o peso
Eu mal consigo sair inteiro dos meus
Às vezes visito a lua
Às vezes visito o sol
Às vezes viajo até me perder de mim
Pra me encotrar nas românticas reações químicas de alguma estrela bem ao longe
Uma voz distante me chama pelo nome
Me traz de volta ao mundo sólido
fixa meus pés firmes ao chão
Me disperta para os ciclos do viver
Menos distante do que qualquer corpo celeste
Mais intenso do que qualquer fenômeno natural
O impulso que me dirige o chamado me atinge
Eu abro os olhos, com cautela
Com medo de ser cegado pelo brilho
Eu me surpreendo com uma luz suave
Aconchegante mesmo aos meus olhos cansados
O universo gira em outra volta
Agora um pouco menos de pressa
Eu subo as ondas, e eu as desço
Sem deixar nenhum pedaço para trás
"Tudo vai valer a pena"
O vento sussura em ar de calmaria
O fantasma sobre o mar, descansa
O sol anuncia o início de outro dia
Eu repito para mim mesmo
O que a sua luz me fez um dia dizer
E sua graça, marcada no meu peito
Me faz suportar essa loucura de viver
Estou lutando contra as ondas
Uma luta que se estende por anos
A água fria me afoga
A chama interna me renova
E eu volto a lutar
Puxo as velas, viro o leme
Grande é a valsa sobre o convés
O mastro range, o casco grita
Furiosa é a água sob meus pés
Não me salve
Não me deixe
Apenas espere por mim
Não como porto, não como terra
Nenhuma jornada possui um destino final
Findada essa luta
A embarcação vai se renovar
E em um nascer do sol, haverá apenas
Eu, você, e o mar.