VAGANTE
Os céus lindamente se escurecem com o entardecer
As horas passam como minha juventude
Nessa época ou em qualquer época que eu viver
Eu fugirei de aceitar essa cidade
Esquecida e simplória
Eu sou vagante, e eu vagarei, vagarei para o distante
Eu passarei pelos viadutos mais longínquos
E pelas ciclovias e pelos mangues
Olhando com os meus olhos famintos
O que esse País não conta em sua história
Brincando com os anos, totalmente perdida
Sem horários, sem regras, na calma
Meu quarto desordenado é o reflexo da minha vida
E isso não me incomoda, pelo contrário, me acalma
E, como de costume inevitável
Ignoro as opiniões alheias e as reclamações
Eu procuro pelo cheiro do mato e da tempestade
Eu sou quem vira as costas primeiro para irritadas multidões
Eu amo ter a eterna irresponsabilidade
De nunca ser responsável
Voando ao vento a cor chocolate dos fios de cabelo cacheados
Algum dia, como um Pavão suas penas exibe
Vagarei e assim, só assim, serei livre
Para nunca mais ficar no parado
Procurarei a mais alta Glória
Que o meu País ferido possui, além de suas belezas naturais
Além de Fernando de Noronha, Ilhabela, Bonito, em Minas Gerais
Quero presenteá-lo com a mais alta conquista
No meu desespero de ufanista
Concedê-lo a mais suprema vitória
Eu aguardo a liberdade como quem aguarda absolvição
Olhando pela janela do meu quarto, torço para que algo supra o tédio eterno dos meus dias
Novidades, novas melodias, e não as mesmas melancolias
Tragam para mim o que não vivi no último verão
Tragam o dia friorento das grandes altitudes
E tragam com ele a mais pura sinceridade
Que revele que, nessa vida de dura jornada
Eu queria ser aquele que não precisa fazer absolutamente nada
Sozinha pela estrada, e perdida de sua idade
As horas passam como minha juventude