TRAVESSIA

Não posso mais apertar a mão do amigo, abraçar sua alegria, afagar sua

tristeza.

Não posso mais refrescar a garganta, aquietar a alma no saboroso bar do

encontro, nem contemplar os momentos poéticos nos saraus da noite

adocicada pelo paladar da arte.

Ela vê da janela do prédio a rua vazia e soturna, não há tédio em seu olhar,

o lar que habita com sua família, não é luxo nem palafita, a maior riqueza é invisível aos olhos do dinheiro;

a luz que os ampara é fraterna na vastidão solidária dos lares,

combustível necessário pra gerar força motriz e fechar a ferida.

Mesmo que nada seja como antes, a normalidade do ontem se oxidou.

É hora de olhar sincero e sorriso aberto.

Deixar pra trás tudo que exauriu a natureza generosa do ser.

Abandonar o consumo excessivo refletido no olhar obsceno da vaidade.

Revitalizar a força enfraquecida pela ditadura do poder.

Reciclar o lixo que enche nossos rios de lágrimas.

Fechar a conta e expor na vitrine da consciência.

É hora de apagar os passos enferrujados do passado e brilhar na passarela do

amanhã, sob os aplausos da superação.

Deixar o arco-íris de enganos da certeza se hidratando no deserto impetuoso

da dúvida.

Mais adiante, depois das pedras, avista-se o mar refletindo o belo espelho azul

do céu.

Orlando Alves Ribeiro
Enviado por Orlando Alves Ribeiro em 27/06/2021
Código do texto: T7287913
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.