Arrebatamento

Inexistem desejos

Na Terra de areia e sol

Paira no ar um vazio que sufoca e cala

As bocas estão cansadas

Solitários estão os homens, sob o sol de maio

Carentes e desérticos em suas almas roubadas

Afastamentos...

Restam matas, ilhas, enseadas

Distantes, proibidas, cercadas

Peixes e orcas, com ventres ao sol

E os fantasmas amarelos são donos do ar...

Os corpos dormem

Quase dormem na noite de descorado luar...

Nos ventres imóveis dos homens e mulheres

O repouso, entorpecido e depressor

Nenhum sentimento, nem ira nem amor

Os homens de terra, sol e mar, engolem a dor

Desolação

São dormentes, adormecidos

Homens e mulheres de sol, terra e mar

São robôs que temem se tocar

Nada se move nem transpira

E os abutres – em festim – mastigam o ar...

O milagre

Rogam os homens e mulheres

Que do éter venha um vento

Capaz de a vida purificar

Que faça o deserto florir

De repente, até, verdejar

Tremer...

E o abutre invisível gargalha “coroado”

Que acorde nosso Deus prostrado

Para a roda fazer rodar

Que desperte a comunhão

Renovando os tratados

Para a Terra não se esgotar

A Terra nova

Em clamores, então

Os corpos de areia, de terra e de sal

De volta terão o ar

De volta, seus febris amores

Pulsantes e protetores

Porvires, horizontes

Ressurgires...

Maria letra e cor
Enviado por Maria letra e cor em 04/05/2021
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