Arrebatamento
Inexistem desejos
Na Terra de areia e sol
Paira no ar um vazio que sufoca e cala
As bocas estão cansadas
Solitários estão os homens, sob o sol de maio
Carentes e desérticos em suas almas roubadas
Afastamentos...
Restam matas, ilhas, enseadas
Distantes, proibidas, cercadas
Peixes e orcas, com ventres ao sol
E os fantasmas amarelos são donos do ar...
Os corpos dormem
Quase dormem na noite de descorado luar...
Nos ventres imóveis dos homens e mulheres
O repouso, entorpecido e depressor
Nenhum sentimento, nem ira nem amor
Os homens de terra, sol e mar, engolem a dor
Desolação
São dormentes, adormecidos
Homens e mulheres de sol, terra e mar
São robôs que temem se tocar
Nada se move nem transpira
E os abutres – em festim – mastigam o ar...
O milagre
Rogam os homens e mulheres
Que do éter venha um vento
Capaz de a vida purificar
Que faça o deserto florir
De repente, até, verdejar
Tremer...
E o abutre invisível gargalha “coroado”
Que acorde nosso Deus prostrado
Para a roda fazer rodar
Que desperte a comunhão
Renovando os tratados
Para a Terra não se esgotar
A Terra nova
Em clamores, então
Os corpos de areia, de terra e de sal
De volta terão o ar
De volta, seus febris amores
Pulsantes e protetores
Porvires, horizontes
Ressurgires...