Deus onde estás? (II)

Deus, onde estás?

Estás no céu ou estás no mar?

Te vejo na flor? Te vejo no ar?

Estás na criança a mendigar na rua? Oh! Deus! Onde estás?

Te vejo na chuva, no orvalho, nos primeiros raios de sol ou no luar?

Oh! Deus! Te vejo na beleza intensa da natureza? É lá que estás?

Sinto a solidão dos aflitos e acompanho a dor da mãe que enterra seu filho,

É na dor que estás? Oh! Deus!

Procuro-Te nos becos escuros por onde transitam as mundanas,

As Madalenas sem destino de paz, mas em direção à solidão.

Oh! Deus! Não sei onde estás?

Estás no sorriso da mulher

Que abraça todos os dias o filho ao sai para as labutas da vida?

Ouço o grito desesperado dos desempregados,

Dos sem terras, sem lar, sem rumo

É lá que estás, Deus?

Busco-Te no belo ou no terror?

Por meus caminhos tenho à procura do Teu Ser encontrar.

Por meus caminhos tento o vazio em meu ser consolar.

Vejo a lua, sinto a brisa, as árvores e tudo que tem seu mais belo formato.

Seguir, eis o que tento então agora nessas linhas

Que percorrem o branco do papel.

Seguir...Sigo a Te procurar...Sigo então querendo Te encontrar.

“Deus! Oh! Deus! Onde estás que não respondes?”

Estás no canto das aves? Ou no grito que rasga o peito dos que sofrem?

Oh! Deus! Qual tal dor é essa que deixa o coração em miúdos,

Estraçalha o peito e sufoca a alma?

Tão grande dor, tão grande é a saudade, e de tão tamanha que é, fere.

Respondes então nas questões que formulo, Deus!

Não sei onde estás, mas sei que se Ti nada sou.

Olho por esse caminho a percorrer, sem ver o que por trás fica.

Olho por esse caminho em busca de Ti.

Os soterrados, comem terra, lama. Sufocados morrem: Um! Dois!

Sufocados morrem todos em um só momento, de um só lar.

E de lar fica o nada.

É lá que estás? No derramar da terra?

No desmanchar das casas? No mergulhar dos corpos?

Nas correntezas que inundam, arrastam e desmontam vidas?

Deus! Estás então com essas vidas? Vidas vivas! Vidas mortas?

Chega agora à chuva.

Chuva que feri,

Chuva que mata, que limpa e purifica,

A chuva que faz crescer e surgir o fruto, o pão.

Oh! Deus! Estás no “pão nosso de cada dia”?

Enjaulados feras homens se escondem de ti.

Enjaulados, amontoados...homens nem mais são. São?

Oh! Deus!

Por onde está então a "Tua imagem e semelhança” por entre essas jaulas?

Grades...Prisões...Jaulas de homens!

Deus! Estás nos corredores por onde a sentença da morte espera,

Ou estás na cor da pele que fere muitos?

Na escuridão da pele dos que são excluídos?

Excluídos por cor, por cara, por fala, por sexo

E por fora fica então alguns muitos.

Oh! Deus! Por onde Te encontro?

É tamanha a minha canseira. É tamanha minha busca.

Busco-Te por entre os becos dos namorados.

Busco-Te por entre a pele dos amantes.

Busco-Te por dentro da minha saudade,

Da saudade do amor que de mim se foi.

Do amor que de mim é proibido ter e viver.

Busco-Te por entre minhas lágrimas.

Perguntaste, Deus para Jó:

"De que ventre procede o gelo?... E quem dá à luz a geada do céu?...

Podes levantar a tua voz até as nuvens,

para que a abundância das águas te cubra?"

Oh! Deus! Tão pequeno somos, tão...tão nada somos e nada podemos fazer

Diante de tantos mistérios, diante de Tua grandeza, Senhor!

Não! Não! nada sem ti podemos fazer!

"Guarda-te, não te inclines para a iniquidade; pois isso preferes à tua miséria." disseste Tu, Ó Deus à Jó.

Há quantas iniquidades, tantas quantas injustiças?

Misérias, quantas então há? Ou preferimos a vileza?

A questão é então agora saber por onde estás,

Ou o que nós, pequenos e imaginários grandes homens escolhemos?

É a escolha que cada um faz.

É então por esse caminho que Te encontraremos?

O caminho das escolhas, ou sim ou não? Ou é ou não é? Ou ser ou não ser?

Mas como Te escolher se não Te conhecemos?

E como Te conhecer se não te buscarmos?

E como Te buscar se não te queremos?

Oh! Deus! E como deixar de te querer?

Como não Te querer em uma vida vil, sem texto com nexo.

Com texto complexo.

Vida vazia! Vida sem vida!

Esta é a vida que queremos?

“Deus! Oh! Deus! Onde está que não respondes?"

Chora o coração do poeta, em negra visão de dor.

Chora o poeta em busca de justiça.

Oh! Deus! Sei que estás em quem Te busca.

Sei que estás em quem Te chama.

Sei que estás com quem Te espera e em Ti espera.

Esquecemos por tão tamanho desespero de Tua Onipresença?

Estás com quem Te chama. Estás com quem Te ignora.

Oh! Deus! Estás com quem Te busca.

E não é a cor. Não é a cara. Não é a fala.

Deus, és a todos por igual: Pai, Amigo, Consolador...

És o Pai das luzes, luzes que ilumina, irradia!

ÈS o caminho. És a verdade! Deus! Oh! Deus! És a vida!

E vida de vida que renasce aos que te buscam.

Oh! Deus! Por onde posso ir, se não for contigo?

Estás aqui. Estás ali. Estás acolá. Estás cá.

Bem aqui, perto de mim, de ti.

Estás e ficarás, por amor incondicional por mim.

Por ti. Por todos e todos sem exclusão.

Brada a voz de teu servo Paulo: “Porque estou certo de que, nem a morte,

Nem a vida, nem anjos, nem principados, nem coisas presentes, nem futuras, Nem potestades, nem altura, nem a profundidade, nem qual outra criatura

Nos poderá separar do amor de Deus,

Que está em Cristo Jesus nosso Senhor.”

Cessa a busca por Ti,

Cessa o clamar da minha solitária procura.

Oh! Deus! Tão pequeno sou sem ti, e tão grande posso contigo!

Não aguento mais pensar no fim.

Vem Senhor, pois é o Teu amor incondicional por mim

Que vem acalantar minha dor e abrir meu olhos

Para um novo viver!

Fatimiha
Enviado por Fatimiha em 11/04/2021
Código do texto: T7228998
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