Pandemia
Eu não sei que mania é essa
De arranjar desculpa pra tudo
Se não é desculpa é motivo
Nada é o que é apenas por ser
E por falar em ser
Esse tal de ser humano
É um bicho esquisito
Nasce sem ter propósito
E corre a vida atrás de nada até morrer
Eu ouvi muito no início da pandemia
Que mais noite ou mais dia
Depois de toda essa ventania
O homem ia aprender
A humildade que não nasceu com ele
A empatia que pelo outro não desenvolveu
O amor que nem por si próprio sentia
Somente a Pandemia poderia lhe conceder
Mas tem uma coisa que eu não entendo
E até comecei a falar no início desta poesia
Porque a gente espera que o mal morra
E na sua cova brote o amor que não existia?
O bom é ainda melhor se a dor do outro pode sentir
É como se fosse em sua pele o corte a sangrar
Mas como esperar do mau que assim o faça
Se nem o amor conseguiu o curar?
A pandemia ensinou muitas lições
Para quem esteve aberto a aprender
Mas pra quem nunca olhou para o lado
Não vale a luta travada para sobreviver
Talvez a maior das lições que aprendi
Tenha sido enxergar o desnudar do ser
Foi assustador descobrir almas nuas
Sem edição, sem filtro, sem nada a esconder
O homem nu é feio
A alma despida e descortinada causa medo
Hoje eu entendo porque todo mundo se esconde atrás de algo
Talvez seja melhor manter nossa transparência em segredo.
Até o dia em que de fato o milagre aconteça
E consigamos lapidar o que há no nosso interior
A ponto de nus sermos vistos e apreciados
E não encarados com choque e temor.
[Quem sabe se a próxima pandemia for de amor?]