Me falaram que passa com o tempo

Vou andando à soleira de um sorriso,

um cantinho de boca maltrapilho,

contornando de triste o coração.

Me falaram que passa com o tempo,

me disseram que passa como o chão.

E neste canto de choro da caneta

nesta tarde bonita de verão,

vou e rabisco uma rima de riso no espelho:

um consolo à nudez da solidão.

E adorno o vermelho do retrato,

rasgo o limo do verso que resseca a linha

e sigo.

Me falaram que passa com o tempo,

me disseram que passa como o chão.