CHUVA
A chuva que encomendei ainda não caiu
e parece que vai demorar.
A terra e a pele estão a trincar, ressequidas,
e os sentimentos poderão ficar ásperos.
Já passa muito de abril, outros meses virão
e não sabemos quando a água chegará.
Importa muito zelar pela manutenção da vida,
manter viva a emoção,
cuidar que o amor e a amizade não morram.
Espero uma chuva que caia debulhada
em grãos de água e gotas de vida abundante,
não uma chuva de lágrimas derramadas
por olhos aflitos e desesperançosos.
Uma chuva que forme poças de puro brilho
na superfície das nossas emoções
e nos ajude manter a esperança.
E faça com que, no chão em que caminhamos,
o sol se multiplique em pontos de luz
que animarão universos em torno
de cada pequeno astro-rei refletido,
onde orbitem pequenos gravetos e folhas
que a água fez descer das árvores.
Minha encomenda é de uma chuva completa,
mas que seja suave para não escorrer
em enxurrada que lava as superfícies
e leva o que ficou da última colheita.
É necessário que a água não tenha pressa,
que penetre fundo no solo e nas almas
e faça germinar as sementes que ali estiverem.
Somente assim teremos outonos de fartura
e primaveras de luz e beleza.