Metamorfose
O tempo, que se divide e se faz vida,
ao vê-la assim, sem graça, dividida,
sem um porto onde se ancorar,
vai, sem rumo, sem meta, sem saída,
sem chegadas ou partidas,
passo a passo a vagar.
Percebe, em cada tristeza sentida,
que a alegria ficou perdida
nos paradoxos do existir.
Busca forças, procura alguma saída,
como Coralina recriar a vida,
cuidar da raiz, e se renovar, e se sentir.
A vida se faz tempo agora,
sente a chuva, o sol que a face cora,
percebe o caminho, a ânsia de ressurgir.
A cada noite, revive o que foi outrora,
vendo a lua que clareia muito afora
e, pela janela, o quarto de dormir.
Guarda no peito lembranças das primícias,
sente, no rosto, do filho as caricias,
transforma em poema a vida de então.
Dá passos largos, sem dor, sem malícia...
A face revela a beleza e a essência
de quem leva o mundo na palma da mão.
. . . . . . . .. . .. . . .. . . Luisa Garbazza