Ávido

Ainda que a terra seca e árida

Rejeite o abrir-se em oferta santa

E ouvidos surdos não ouçam

O pássaro desperto que canta.

Ainda que haja longas dores de parto

Desta terra em contínuo estado de graça

Grávida.

Ainda que a mão esteja sôfrega

Pelo árduo labor de eras plásticas

Dos volumes e excessos de nós

Fazendo das águas veias dramáticas

Ainda que a palavra proferida

Seja de pedras atiradas contra vidraças

Acústicas.

Ainda que pareçamos perdidos

Nesta quase conhecida via láctea

Astros, estrelas mundos orgânicos

Mentes pragmáticas: outra galáxia

Ainda que esteja aberta a ferida

E sobre lábios trêmulos: duras mordaças

Estúpidas

Ainda que a vida esteja dramática

Sem tom, sem luz... cores pálidas

Procurando em si: sentidos, respostas...

Das falsas certezas dogmáticas

Ainda que a penúltima lágrima presa

Rompa o canal e lave leve... o medo desfaça

Antídoto

A semente plantada

Lançada ao chão por ventos

Pássaros... mãos sofridas

Embrião adormecido... fleumático

Anônimo, telepático, na terra seca e árida,

Ainda grávida... em estado de graça

Brotará íntegra

Em rebentos de esperança e vida

Ávidos

JANET VITAL
Enviado por JANET VITAL em 30/07/2020
Reeditado em 25/08/2024
Código do texto: T7021455
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