Ávido
Ainda que a terra seca e árida
Rejeite o abrir-se em oferta santa
E ouvidos surdos não ouçam
O pássaro desperto que canta.
Ainda que haja longas dores de parto
Desta terra em contínuo estado de graça
Grávida.
Ainda que a mão esteja sôfrega
Pelo árduo labor de eras plásticas
Dos volumes e excessos de nós
Fazendo das águas veias dramáticas
Ainda que a palavra proferida
Seja de pedras atiradas contra vidraças
Acústicas.
Ainda que pareçamos perdidos
Nesta quase conhecida via láctea
Astros, estrelas mundos orgânicos
Mentes pragmáticas: outra galáxia
Ainda que esteja aberta a ferida
E sobre lábios trêmulos: duras mordaças
Estúpidas
Ainda que a vida esteja dramática
Sem tom, sem luz... cores pálidas
Procurando em si: sentidos, respostas...
Das falsas certezas dogmáticas
Ainda que a penúltima lágrima presa
Rompa o canal e lave leve... o medo desfaça
Antídoto
A semente plantada
Lançada ao chão por ventos
Pássaros... mãos sofridas
Embrião adormecido... fleumático
Anônimo, telepático, na terra seca e árida,
Ainda grávida... em estado de graça
Brotará íntegra
Em rebentos de esperança e vida
Ávidos