Sobre o tempo que deixei de sonhar
Sempre me vi como sonhador
criando mundos em minha imaginação
repleto daquele sentimento desbravador
que traçava planos em meu coração
Mas um vez eu matei um sonho, doeu
segurei aquele futuro despedaçado em cada mão
com ele uma parte de mim morreu
e naquele dia ouvi o grito de cada encarnação
Senti como se minha pele fosse arrancada
e a tristeza chicoteasse a carne exposta
só quem já matou um sonho
sentirá essa dor retratada
só quem já matou um sonho
entenderá essa poesia composta
No dia seguinte acordei jogado às traças
onde fechava os olhos e via o nada
meus pensamentos tomados por desgraças
esse corpo lar de uma alma estraçalhada
Sabe Bethânia, eu fui fera ferida
no corpo, na alma e no coração
ave de asa partida
sem poder voar no céu desse mundão
A esperança tentava sussurrar em meu ouvido
mas a dor gritava tão alto que nada eu escutava
havia deixado de ser, estava perdido
sequer vivia, apenas vagava
Um tempo de arrependimento
onde a existência me esmagava
fluente apenas em lamento
só murmúrios eu rezava
Cartola já havia dito que o mundo é um moinho
e que trituraria meus sonhos tão mesquinhos
eu pensei que estava preparado
até que choveram lágrimas por todo lado
Mas vi que todo sonho ressuscita
entendi que a vida bate, te nocauteia
mas se o coração ainda acredita
a perna levanta , e a mão golpeia
Não importa onde esteja
sempre há tempo pra sonhar
não se entregue de bandeja
sempre há como ganhar
Eu Já beijei a morte
eu já me afoguei em dor
sabe Belchior, sou um sujeito de sorte
agora livre e novamente sonhador
escrevo sobre um tempo em que deixei de sonhar