Sobre o tempo que deixei de sonhar

Sempre me vi como sonhador

criando mundos em minha imaginação

repleto daquele sentimento desbravador

que traçava planos em meu coração

Mas um vez eu matei um sonho, doeu

segurei aquele futuro despedaçado em cada mão

com ele uma parte de mim morreu

e naquele dia ouvi o grito de cada encarnação

Senti como se minha pele fosse arrancada

e a tristeza chicoteasse a carne exposta

só quem já matou um sonho

sentirá essa dor retratada

só quem já matou um sonho

entenderá essa poesia composta

No dia seguinte acordei jogado às traças

onde fechava os olhos e via o nada

meus pensamentos tomados por desgraças

esse corpo lar de uma alma estraçalhada

Sabe Bethânia, eu fui fera ferida

no corpo, na alma e no coração

ave de asa partida

sem poder voar no céu desse mundão

A esperança tentava sussurrar em meu ouvido

mas a dor gritava tão alto que nada eu escutava

havia deixado de ser, estava perdido

sequer vivia, apenas vagava

Um tempo de arrependimento

onde a existência me esmagava

fluente apenas em lamento

só murmúrios eu rezava

Cartola já havia dito que o mundo é um moinho

e que trituraria meus sonhos tão mesquinhos

eu pensei que estava preparado

até que choveram lágrimas por todo lado

Mas vi que todo sonho ressuscita

entendi que a vida bate, te nocauteia

mas se o coração ainda acredita

a perna levanta , e a mão golpeia

Não importa onde esteja

sempre há tempo pra sonhar

não se entregue de bandeja

sempre há como ganhar

Eu Já beijei a morte

eu já me afoguei em dor

sabe Belchior, sou um sujeito de sorte

agora livre e novamente sonhador

escrevo sobre um tempo em que deixei de sonhar

R J Ferreira
Enviado por R J Ferreira em 15/07/2020
Reeditado em 06/06/2023
Código do texto: T7007101
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.