Depois da estação,viu?

E o meu trem de homem muda de estação

Paro diante do desfiladeiro,

continuo a amar-te sem qualquer receio,

mas tu não me amas.

Comando teu propósito e ser apenas minha,

tua face ensurdece o meu olhar,

grito para te acordar

e enquanto o faço, durmo.

Minhas lágrimas caem oblíquas na face.

Algumas alcançam a boca,

outras se evaporam:

medrosas lágrimas que fogem...

vão embora.

Que ira te sustenta então?

Estira-me tuas mãos e me beija com teus dedos.

Protejo teus seios elevando o olhar

e vejo-os dados aos meus olhos,

chorando com o raro ócio despedaçado do teu receio,

e louco, penso estar sendo amado,

o que não fazes espontaneamente, com verdade.

Descubro e reconheço que meu destino é fugir de ti,

Ir para onde só eu possa ir

e viver amado por meu próprio coração,

sentindo-te em tuas ausências e teus nãos,

sempre presentes em meus sóis,

e mesmo assim ver outros dias lindos,

seguir às voltas com os girassóis bailarinos,

desprover-me de qualquer abrigo

e seguir só, sem me molhar com a solidão,

dando-me um grande perdão.

Fica, meu amor, dorme profundo.

Hei de povoar teus insones sonhos

para poder beijar-te, muito mais do que amar-te

e só assim poder viver ensolarado,

como um homem apaixonado

por uma rara mulher

que jamais brotou em plena liberdade.

Poema inédito (13/07/2020)

Paulino Vergetti