A ruína
O sol castiga a ruína
com lanças e folguedos impensados
de esperança falha.
A ruína está deitada no pátio calmo
e violáceo de um domingo de inverno.
Na entranha da ruína uma nobre arte se esvai
entre matos, musgos, visgos e sujos pombos roliços
que despejam imundices das ferragens de seu esqueleto quebrado.
Barulhentos arrulhos no teto da ruína, na casca caiada da ruína.
Pessoas absurdas andam no solo antes sagrado da ruína.
Seu corpo rotundo, um dia esbelto e movimentado,
não tem vergonhas agora a esconder.
Entregue.
A ruína está entregue à maldade indiferente do tempo.
A luz que colore seu umbigo, seu centro,
é crudelíssima e precisa em seus volumes
de ferrugens, areia e inutilidades de âmago.
Se tudo que foi e é feito será ruína, por que, afinal, o gesto?
Por que, afinal, o sinal?
A ruína persiste mais um pouco.