Supressão de quarentena

Veio a quarentena, uma porta se fechou

Como se atrás dela, parte importante de fora ficou

Logo foi sentida e notada

O papel nunca esteve tão branco e vazio.

Os dias passam

Ela não entra pela janela

Nem bate à porta

Nem ocupa por invasão

Não faz "live", nem chamada de vídeo

Só dias longos

Sem convite e sem comunicação.

Se desfez em meio às incertezas que ganharam voz e vez?

Continua do lado de fora, esperando a porta novamente ser aberta?

Será que encontrou abrigo em quem não abraçou o confinamento?

Será que esqueceu da sua primeira casa e de que é desejada em todo momento?

Será que volta? Será que vem?

Será que pariu por outras mentes e abandonou a minha, velho útero, para adoção?

Escrevi-lhe uma carta, que não posso entregar

Preparei seu banho, e ela não veio se lavar

A mesa está posta, ela não veio se alimentar

Tem álcool gel se ela precisar.

Ela que arruma, ela que bagunça

Mas sempre coloca tudo no lugar.

Como me faz falta!

Suplementa minha alma

Também me coloca no lugar.

Ela que pinta meus sentimentos da cor que escolhe

Mas não tira da minha alma as cores que têm

E traduz com melhor legenda

O que sinto de bom e o que não me convém

É brilho, é contraste, é nitidez

Em doses bem medidas

Nas madrugadas áridas é minha companhia preferida.

Como imunidade do corpo pede Vitamina D

A imunidade de minha alma pede por ela

A quem promovo vitamina. Vitamina I.

Sonho que volta pra meus versos, vestida de quarentena

E anuncia sua chegada enquanto ainda seguro a caneta

Sussurrando em meu ouvido com a voz que em mim ressoa:

-Voltei para casa.

E eu, feliz, te agradeço, Inspiração.

Alda Guimarães
Enviado por Alda Guimarães em 29/05/2020
Código do texto: T6961929
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