Supressão de quarentena
Veio a quarentena, uma porta se fechou
Como se atrás dela, parte importante de fora ficou
Logo foi sentida e notada
O papel nunca esteve tão branco e vazio.
Os dias passam
Ela não entra pela janela
Nem bate à porta
Nem ocupa por invasão
Não faz "live", nem chamada de vídeo
Só dias longos
Sem convite e sem comunicação.
Se desfez em meio às incertezas que ganharam voz e vez?
Continua do lado de fora, esperando a porta novamente ser aberta?
Será que encontrou abrigo em quem não abraçou o confinamento?
Será que esqueceu da sua primeira casa e de que é desejada em todo momento?
Será que volta? Será que vem?
Será que pariu por outras mentes e abandonou a minha, velho útero, para adoção?
Escrevi-lhe uma carta, que não posso entregar
Preparei seu banho, e ela não veio se lavar
A mesa está posta, ela não veio se alimentar
Tem álcool gel se ela precisar.
Ela que arruma, ela que bagunça
Mas sempre coloca tudo no lugar.
Como me faz falta!
Suplementa minha alma
Também me coloca no lugar.
Ela que pinta meus sentimentos da cor que escolhe
Mas não tira da minha alma as cores que têm
E traduz com melhor legenda
O que sinto de bom e o que não me convém
É brilho, é contraste, é nitidez
Em doses bem medidas
Nas madrugadas áridas é minha companhia preferida.
Como imunidade do corpo pede Vitamina D
A imunidade de minha alma pede por ela
A quem promovo vitamina. Vitamina I.
Sonho que volta pra meus versos, vestida de quarentena
E anuncia sua chegada enquanto ainda seguro a caneta
Sussurrando em meu ouvido com a voz que em mim ressoa:
-Voltei para casa.
E eu, feliz, te agradeço, Inspiração.