À Luz e à Sombra de Nós
Estribos
necessitamos;
antes da força, do limbo e da devastação
vinha o homem, a pé e descalço
em meio à multidão de homens
pisando e pisando sobre todos
uns aos outros, aos poucos
como em uvas
entre os sangues e escorrendo
um a um: as relações, a piedade
a ternura, a palavra, a verdade
o homem pisou e deixou escorrer
espremeu o sumo e a morte
até que a morte parou e começou
a matar aquele que o matou
um por um, face por face
a morte foi severa e linda
destruiu, navegou, reconquistou
e está dando uma oportunidade de andarmos
novamente
aprender, desfazer, pedir desculpas
semear, proteger as coisas e os outros
a morte deseja;
mata, mas não quer que ninguém morra
só deixa aquilo que ainda
virá a fazer, um outro dia
- vírus: vida em alvorada
Depois, caberá a nós recolher
nossos corpos, arrumar novos amores
fazer novos amigos
estender nossas mãos
e recolher nosso varal, humildemente
inúmeras vezes
até aprendermos
a morrer sem precisar
do ensino da morte