LIÇÃO DE HELENA

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- Helena, amiga confidente a quem falo,

Se a ti a boca que tenho não calo,

É porque falar-lhe demais me alivia!

Neste mundo em que a vida é pecado,

A mão que sentencia o condenado,

É a mesma da mentira que alicia!

Vejo as frontes de olhos acovardados,

Uns aos outros estão sendo odiados,

Descartando com frequência tantas vidas.

Por trás do escuro do vidro espelhado,

Negociando horrores, de terno engomado,

Os culpados produtores das chacinas.

Pois que o mundo - presidido pelo diabo -,

Aos poucos vem sofrendo aniquilado,

Milhões de famílias morrendo famintas!

Helena, por que o grosso peso do fardo,

Este câncer que me deixa angustiado,

Não feres a tu e a tu não contaminas?

- Amigo, homem de apreço exacerbado,

A quem com prazer me conservo ao lado,

Lhe falo e concordo com aquilo o que ditas!

Se ao contrário de tu que andas angustiado,

Tenho o peito mais um pouco confortado,

É porque de amor estou sempre faminta!

Como um bom paciente ao leito deitado,

Perseverante há tempos eu tenho esperado,

A cura para os males vis desta vida!

O sonho - o brilho de um olhar encantado -,

Como ao artista é a paz de um tablado,

Em mim produz doses de pura endorfina!

Pois que crer não é fé - estás enganado -,

Não há Deus que eu antes já tenha adorado,

Qual o Deus que dentro de mim hoje habita!

Este Deus - inquilino de um corpo exilado -,

Não me cobra e tampouco teria cobrado,

Mas me guia, me cuida, me mostra e ensina.