Prólogo
É noite, está escuro.
É possível enxergar.
Silenciosos, os ventos cessam
Transportam as coisas e as dores
Que eu não sinto mais
Transplantes, as plantas de tantos amores
Forjados sentidos sobre tantos senhores
Enquanto o sentimento de que as coisas são em vão distorce
A visão das luzes que se apagam
Me faz continuar
Alguns dizem que o céu é parte do universo
E que, de verso em verso, é possível distinguir
As coisas que sabem das coisas que caem
As coisas que crescem e as que se esvaem
Não consigo ver
Eles dizem que sim
Que, com todo seu poder,
Fazem o mundo
E eu duvido
Um traço físico da matéria
Estuda um traço físico da matéria
Entende, discute, defende, se integra
Escreve sobre si
Um amontoado de moléculas
Em Movimento Browniano
Quase todas chorando
Em profecias gloriosas
Meu nome vou gravar
Sacrifícios, meu peito entre espinhos
O sangue acumulado e a pele já saindo
As dores eu sinto num tom viscoso
Na tentativa de estancar
Perfura fundo os ossos
Fecha todos os meus poros
E eu nem consigo respirar
Leva alguns dos meus cabelos
Um pedaço da minha alma
E promete voltar
É noite
Se posso ver, já não duvido
Sobre o caminho das estrelas
Cruzá-lo-ei vivo.