SEPULTADA

Numa condição estagnada

Desprovida de coragem ou ânimo

Sobre um estranho aconchego frio e sombrio

Com uma gostosa sensação de sentir o ócio

Inebriando a vontade e o querer

O nada invade a razão

E qualquer razão será vã.

Passado e presente anulam-se

E só o momento é o intervalo

Em que o ponteiro não se move

E esqueceu-se que um segundo não tocou.

Ficar escondida em algum lugar?

Refúgio melhor? Não há a procurar

Basta estar e permanecer

Qualquer ação poderá tirar-me da inércia

Não pensar, não agir, não se preocupar

Pois isto é uma ação da mente

Ou do peso que recai sobre

A consciência de ser (útil)?

E que as únicas ações sejam as

Metabolicamente involuntárias

Do paradoxo viver e continuar

Para o que há de vir.

Simplesmente ser o sentir

Apenas uma necessidade orgânica de estar...

Sem lugar, sem tempo, sem ninguém,

Sem razão, sem função, sem sentido,

Sem espera, sem ser (o que) os outros...

Sem escapar ou fugir

Sem andar ou sair

Sem esconder-se ou sumir

Sem desaparecer ou ir

Mas ser.

Sem insônia, pois o sono é constante

Sem angústia, pois estou calma

Sem tristeza, pois não é falta

Sem culpa, pois assim estou.

Deixem-me assim,

Não me desenterrem,

Aguardem-me,

Amanhã, eu ressuscitarei.

Eclesia
Enviado por Eclesia em 29/09/2007
Reeditado em 21/03/2008
Código do texto: T674133