SEPULTADA
Numa condição estagnada
Desprovida de coragem ou ânimo
Sobre um estranho aconchego frio e sombrio
Com uma gostosa sensação de sentir o ócio
Inebriando a vontade e o querer
O nada invade a razão
E qualquer razão será vã.
Passado e presente anulam-se
E só o momento é o intervalo
Em que o ponteiro não se move
E esqueceu-se que um segundo não tocou.
Ficar escondida em algum lugar?
Refúgio melhor? Não há a procurar
Basta estar e permanecer
Qualquer ação poderá tirar-me da inércia
Não pensar, não agir, não se preocupar
Pois isto é uma ação da mente
Ou do peso que recai sobre
A consciência de ser (útil)?
E que as únicas ações sejam as
Metabolicamente involuntárias
Do paradoxo viver e continuar
Para o que há de vir.
Simplesmente ser o sentir
Apenas uma necessidade orgânica de estar...
Sem lugar, sem tempo, sem ninguém,
Sem razão, sem função, sem sentido,
Sem espera, sem ser (o que) os outros...
Sem escapar ou fugir
Sem andar ou sair
Sem esconder-se ou sumir
Sem desaparecer ou ir
Mas ser.
Sem insônia, pois o sono é constante
Sem angústia, pois estou calma
Sem tristeza, pois não é falta
Sem culpa, pois assim estou.
Deixem-me assim,
Não me desenterrem,
Aguardem-me,
Amanhã, eu ressuscitarei.