CONTRAPONTOS VITAIS
Não me detenho mais no caminho,
As horas desmoronam sobre mim.
Dispenso vozes, gestos , carinhos.
Não me dói saber-me assim.
Trago n'alma a dor infinita, infinda,
Repleta de ontens, agoras e aindas.
Fruto solitário esquecido no galho,
Cão deixado à beira duma estrada,
Algo estranho, cheio de cortes, talhos.
Uma sinfonia ruim e inacabada.
Então, março decora-se em mil carpas.
Vislumbro, bem ao fundo, sons de harpas.
E aí, aí sim detenho-me no caminho.
Horas se reerguem, não é o fim,
Semeio sons, ideias, sozinho,
Sempre sabendo a que vim.
Trago n'alma cor, e linda, infinita,
Disposta a dar-se toda bem bonita.
Frutos despontam sobre os galhos.
Cães ladram de tão contentes.
E dar-me em amores, o que valho,
É tudo que de mais minh'alma sente.