CONTRAPONTOS VITAIS

Não me detenho mais no caminho,

As horas desmoronam sobre mim.

Dispenso vozes, gestos , carinhos.

Não me dói saber-me assim.

Trago n'alma a dor infinita, infinda,

Repleta de ontens, agoras e aindas.

Fruto solitário esquecido no galho,

Cão deixado à beira duma estrada,

Algo estranho, cheio de cortes, talhos.

Uma sinfonia ruim e inacabada.

Então, março decora-se em mil carpas.

Vislumbro, bem ao fundo, sons de harpas.

E aí, aí sim detenho-me no caminho.

Horas se reerguem, não é o fim,

Semeio sons, ideias, sozinho,

Sempre sabendo a que vim.

Trago n'alma cor, e linda, infinita,

Disposta a dar-se toda bem bonita.

Frutos despontam sobre os galhos.

Cães ladram de tão contentes.

E dar-me em amores, o que valho,

É tudo que de mais minh'alma sente.

Camilo Jose de Lima Cabral
Enviado por Camilo Jose de Lima Cabral em 01/09/2019
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