Cavalos

Vou contar-te uma história

E lhe peço, não te apresse

Que, pois, dela, te apetece

E trago fresca na memória

Que’u bem queira que comece

Dum homem bom e pobre

E estimado em seu meio

Pra trabalho não tinha freio

Mas ressentia rico e nobre

Que não descia do arreio

Lá das ancas da montaria

Só chibata e dura ordem

Sobre os que nada podem

E ai daquele que os ria

E da tarefa se lhes tardem

E, assim, nosso homem bom

Trabalhava bem a terra

Planta, colhe, em nada erra

Até, em triste dia, tocar som

De corneta: vá já pra guerra!

Pois uns homens do poder

De seu condado e de um outro

Desentenderam por um potro

Azar! Isso longe bem foi ter

Conflito surgiu, humano esgoto

Chamaram tod’a população

E a eles impuseram armas

Populacho segue em marchas

Poderosos de alazão

Dia e noite, longas estradas

Chegado ao palco da luta

Nosso herói como peão

Portando lança numa mão

Perto de uma escura gruta

Arremessado foi ao chão

Cavaleiro inimigo atacou

Fazendo a volta na batalha

Quis lançá-lo à mortalha

Mas seu intento fracassou

Quand’o herói lhe esmigalha

Mas isso foi bem sem querer

Preste-me bem atenção

Pois matá-lo, queria não

Fê-lo isso pra se defender

Da insídia do campeão

Levantando-se do solo

No cavalo meteu a lança

(Er’um ginete de Bragança)

O condutor, caiu de colo

(Só assim que se amansa!)

Vendo sua montaria abatida

O cavaleiro enlouqueceu

E contra o herói se bateu

E, este, temendo pela vida

Violento duelo lhe venceu

E foi a grande façanha

Dum homem que nada era

Mais que tido em sua terra

E, de nobre, só apanha

Mas, de um, venceu na guerra

Cuja qual, arriscada passou

Sobreviveu, só arranhado

Foi pelos pares celebrado

Com louros, à casa voltou

Pelos seus mais considerado

E aqui a história acaba

Vou-me indo, mas te digo

Que, de cavalo, o nosso amigo

Já não mais os receava

Pois um venceu-o pel’umbigo

Eudes de Pádua Colodino
Enviado por Eudes de Pádua Colodino em 09/08/2019
Código do texto: T6716382
Classificação de conteúdo: seguro